Favorecido por desvalorização cambial e elevação de preços médios nos embarques, o índice de rentabilidade do total das exportações brasileiras subiu 3,3% em 2021, na comparação com 2020, segundo dados da Fundação Centro de Estudos para o Comércio Exterior (Funcex).
O ganho, porém, veio concentrado e puxado por setores importantes na pauta exportadora brasileira, como extração de petróleo e gás, de minerais metálicos e de agricultura e pecuária. Em 20 dos 29 setores de atividade que fazem parte do levantamento da Funcex houve recuo de rentabilidade.Para analistas, os dados mostram a dificuldade que boa parte da indústria de transformação teve em repassar o aumento de custos de produção na exportação, o que levou à redução de margens. Para 2022, a perspectiva é de desafios ainda maiores.
Daiane Santos, economista da Funcex, ressalta que o ganho de rentabilidade no total das exportações no ano passado resultou de desvalorização de 4,6% na taxa de câmbio nominal em 2021, na comparação com o ano anterior. A isso foi acrescido o efeito da elevação de 29,5% nos preços médios de exportação. No agregado dos embarques essa combinação compensou o aumento de 31,3% no custo de produção, o que levou ao ganho de rentabilidade.
Quando se observa o desempenho por atividades econômicas, aponta ela, as maiores elevações na rentabilidade das exportações ocorreram em extração de petróleo e gás natural (34,8%), derivados do petróleo, biocombustíveis e coque (29,6%) e extração de minerais metálicos (13,2%). Nos três casos, explica, trata-se de setores que registraram elevações muito acentuadas nos preços de exportação, de 60,3%, 52,6% e 60,5%, respectivamente. Segundo os dados da Funcex, somente essas três atividades responderam por 31,3% do valor exportado pelo país em 2021. Se a esse grupo for acrescido o setor de agricultura e pecuária, cuja rentabilidade avançou 7% no ano passado na comparação com 2020, a fatia no valor exportado sobe para 49,6%.
A economista da Funcex lembra que especificamente no grupo das indústrias extrativas, a rentabilidade média agregada das exportações teve em 2021 o quinto ano consecutivo de elevação, com o maior nível de rentabilidade dos últimos dez anos. Ela ressalta, porém, que o custo de produção das indústrias extrativas vem pressionando e, se mantiver a evolução dos últimos três anos, os preços de exportação e a desvalorização cambial poderão não ser suficientes para manter a rentabilidade do exportador. “Aumentos futuros de rentabilidade dependerão cada vez mais da redução de custos e da elevação de produtividade.”
Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o desafio para a rentabilidade do exportador será maior já em 2022. O minério de ferro, que no decorrer de 2021 passou por elevação histórica de cotações e foi crucial para o ganho de rentabilidade para os embarques do setor extrativista de minerais metálico , deve manter em 2022 preços altos, mas mais ajustados. A AEB, diz ele, projeta preços médios para o item este ano 20% abaixo da cotação média de 2021. O petróleo continua com preços altos e a soja tem ficado sujeita a pressões em razão das previsões mundiais de oferta do grão. Mesmo assim, lembra Castro, a base de comparação de preços neste será mais alta.Há ainda a expectativa de desaceleração da economia chinesa, o que também deve impactar a demanda pelas commodities agrícolas e metálicas exportadas pelo Brasil.
Sob efeitos de inflação global e das ameaças de impactos de novas variantes da covid-19, lembra Castro, os mercados internacionais devem passar por desaceleração de demanda, o que tende a dificultar ainda mais o repasse da elevação de custos, principalmente nos produtos manufaturados. Com isso, a rentabilidade fica mais comprimida. Pelos dados da Funcex, o setor de veículos automotores, reboques e carrocerias viu sua taxa de rentabilidade na exportação recuar 14% em 2021 contra o ano anterior. Nos produtos alimentícios e na metalurgia, essa perda foi de 6% e 4%, respectivamente.
O repasse do aumento de custo é mais difícil nas atividades da indústria de transformação que possuem cadeias produtivas mais longas e que por isso tendem a acumular mais custos de produção, explica o economista Renato da Fonseca, superintendente de desenvolvimento industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Para Fonseca, além de câmbio mais valorizado, um ajuste mais lento do que se esperava na pressão de custos de produção deve pesar na exportação de manufaturados em 2022. Além dos efeitos acumulados de uma inflação doméstica alta em 2021 não totalmente repassados pela indústria, aponta, os preços globais ainda sofrem pressão resultante do descasamento entre oferta e demanda de insumos e da reestruturação das cadeias logística e de suprimentos.
Fonte: Valor Econômico
04/10/2024
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