Companhias da Europa e de todas as partes do mundo estão se preparando para um possível aumento dos custos e mais complicações nas cadeias de fornecimento diante do risco do bloqueio no Canal de Suez - em razão do encalhe de um navio - poder se estender por dias ou até semanas.
Importadores dos setores industrial e de varejo estão acompanhando os atrasos em suas cadeias de fornecimento, que já estavam com problemas por causa de contratempos globais, e alguns estão considerando rotas alternativas, como o envio de produtos por transporte aéreo, que é mais caro, ou por navios que contornem a África, o que poderá atrasar as entregas em até duas semanas.
“Estamos de olho na situação”, disse um porta-voz da fabricante holandesa de cerveja Heineken, acrescentando que alguns contêineres da companhia estão atrasados. “Por enquanto estamos confortáveis com as contingências.”
As companhias estão monitorando a situação do navio encalhado no Canal de Suez (leia o texto ao lado). O problema não deverá afetar os grandes grupos varejistas dos EUA, mas companhias europeias sofrerão um golpe num mercado de marinha mercante já apertado, segundo disse Chris Sultemeier, ex-vice-presidente de logística do Walmart, maior importador e grupo varejista dos EUA.
“O Canal de Suez é usado principalmente no tráfego da Ásia para a Europa, de modo que do ponto de vista de uma varejista de bens de consumo, isso terá um efeito dramático sobre a Europa”, disse ele.
A Ducati Motor, fabricante de motocicletas de luxo com fábrica em Bolonha, na Itália, e que exporta para o mundo todo, disse que os produtos acabados direcionados para a Ásia e que passam pelo Canal de Suez não deverão chegar aos consumidores a tempo.
Até agora, não houve um impacto sobre a produção da Ducati. Mas seu CEO, Claudio Domenicali, disse que as interrupções no fornecimento causadas por dificuldades de transporte nos últimos meses estão entre as maiores ameaças à recuperação da companhia desde o segundo semestre de 2020. “A situação é um pouco pior que a do ano passado”, disse Domenicali.
A Ducati, controlada pela montadora alemã Audi, informou que buscará alternativas de transporte, como as remessas por via aérea, mais caras, se os atrasos no Canal de Suez ameaçarem a importação de peças para a produção.
Executivos de algumas empresas estão avaliando os custos da espera pela reabertura do canal - o que poderá demorar mais alguns dias - contra os custos e a agilidade de outras opções de transporte.
Os fretes de contêineres da Ásia para a Europa, que dispararam ao longo do último ano, depois que varejistas e fabricantes correram para repor seus estoques, exauridos durante a pandemia, se mantiveram estáveis nos últimos dias apesar do bloqueio no Canal de Suez, mas isso poderá mudar.
“Se os atrasos persistirem, será uma outra história”, disse Eytan Buchman, diretor da Freightos, provedora de taxas de envio digital de Hong Kong. “Se a situação piorar e navios optarem por mudar de rota e contornar a África, em vez de esperar pela desinterdição do canal, os importadores obviamente sofrerão com atrasos por causa do período de transporte mais longo”, disse Buchman. “E provavelmente os preços aumentarão por causa dos custos adicionais associados a uma rota mais longa.”
O Warehouse Group, varejista da Nova Zelândia, avalia que o bloqueio do canal agravará os atrasos no transporte que a companhia enfrenta desde o fim de 2020, por causa das restrições impostas pela pandemia. “O Canal de Suez deverá ficar fechado por uns dois dias, o que não ajuda”, disse o CEO Nick Grayston, na quarta-feira em conversa com analistas.
Se o “Ever Given” não for retirado rapidamente, ou se o navio não puder navegar por causa de eventuais danos ou em razão do peso de sua carga, as companhias de transporte marítimo terão de contornar a África, aumentando os períodos de trânsito e o consumo de combustíveis, disse Alan Murphy, CEO da Sea-Intelligence, consultoria da Dinamarca especializada em transporte marítimo.
Um bloqueio prolongado agravaria o problema do fornecimento e prenderia mais navios e contêineres na rota comercial Ásia-Europa, segundo Murphy. “Isso forçaria os importadores a brigar pelos contêineres disponíveis”, disse ele, e o problema pode passar para outras rotas comerciais.
Outra alternativa seria o transporte ferroviário nas crescentes redes terrestres entre China e Europa. Johannes Schlingmeier, presidente executivo adjunto da Container xChange, de compra e venda de contêineres marítimos, diz que as empresas de transporte intensificaram o marketing desses serviços nesta semana.
Alguns importadores dos EUA à espera de mercadorias da Índia, se preparam para possíveis atrasos nos próximos meses por causa do bloqueio do Canal de Suez.
Na Christmas Central de Cheektowaga, Nova York, uma empresa que vende artigos de iluminação e de decoração, as remessas da Índia, de produtos como tapetes de uso externo e lanternas, ainda não sofreram atrasos. Mas se os navios retornarem para a Índia mais tarde que o planejado, isso poderá afetar as remessas durante semanas.
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