A DHL Supply Chain, braço do grupo alemão DHL em armazenagem e distribuição, está dando os primeiros passos com operação dedicada de aeronaves cargueiras no Brasil em uma parceria com a novata Levu Air Cargo, startup com sede em Campinas (SP). Hoje, a carga aérea transportada pela empresa usa apenas o espaço de aviões comerciais.
No total, a DHL irá investir R$ 480 milhões e a Levu outros R$ 530 milhões para o arrendamento de quatro aeronaves, com capacidade total de 10 mil toneladas por mês, assim como centros de operação nos terminais.
O plano é de que a primeira aeronave, um A321-200PCF P2F, já entre em operação neste mês. O passo segue a entrada de diversos “players” no segmento de carga aérea em um momento de forte demanda, sobretudo por parte do e-commerce.
Plínio Pereira, presidente da DHL Supply Chain Brasil, disse que inicialmente os voos farão a rota Viracopos (Campinas) - Manaus, diário, e Viracopos - Recife, com três saídas por semana. “A gente pretende incluir uma passagem em Belém (PA), isso já nos próximos meses”, afirmou. Dentro do investimento estão previstas filiais em cada um dos quatro aeroportos a receber operação. O contrato inicial é de sete anos.
Dentro da parceria, a DHL vai ter prioridade na ocupação e a Levu poderá comercializar o excedente e espaço nas aeronaves. O risco do negócio - falta de carga - fica com o grupo alemão, que vai usar a rota também para outras unidades no Brasil e para conectar as cargas internacionais à malha doméstica.
Já a Levu prevê concluir seu processo de certificação junto à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) ainda neste mês para iniciar a operação, contou Rodrigo Pacheco, CEO da startup.
No total, serão quatro aeronaves Airbus, sendo dois A330-300P2F com capacidade de 59 toneladas e dois A321-200PCF P2F com capacidade de 27 toneladas. “Nos próximos meses vamos receber mais um deste modelo”, disse. A rota para a segunda aeronave ainda está em estudo. No radar está Porto Alegre.
A ideia do cargueiro, acrescentou, é trazer mais flexibilidade à operação, uma vez que na barriga dos aviões comerciais a prioridade é a bagagem dos passageiros, o que torna a oferta ao setor de carga irregular. “Temos uma frequência de oferta sabida, mas dependendo da ocupação no voo comercial, pode sobrar mais ou menos espaço para carga”, disse.
Com as duas primeiras aeronaves, a empresa deverá ter neste primeiro ano de operação um adicional de capacidade na casa de 4 mil toneladas/mês. Até o fim de 2025, quando todas devem chegar, a capacidade adicional será de 10 mil toneladas/mês - entre 3% e 4% da atual oferta de capacidade do mercado brasileiro. Os principais alvo são a indústria farmacêutica, eletroeletrônicos, automotivo e perecíveis.
A força do e-commerce e seu imediatismo incentivou a entrada de diversos concorrentes no mercado. Entre os nomes, nos últimos anos, estão a Total Express (que tem a Amazon como acionista), a Braspress e a Prosegur.
Para além de empresas de logística, a própria Gol, que antes tinha uma operação tímida, hoje é a aérea com maior número de aviões cargueiros no mercado doméstico (seis, com possibilidade de dobrar até 2025), amparada por uma parceria com o Mercado Livre, em um modelo de negócios parecido com o que foi desenhado entre a DHL e a Levu.
Segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o transporte de carga doméstica em março totalizou 42,2 mil toneladas, alta de 9% na comparação com igual mês de 2023.
No passado, outros grupos se aventuraram no transporte de carga aérea, sobretudo por meio das licitações dos Correios. Hoje, a Sideral é a empresa que faz o transporte de correios no modal aéreo. Antes, era a Sky. A própria viação Itapemirim, que teve falência decretada, chegou a investir em uma aérea de carga na década de 1980, sem sucesso.
“O que a gente tem de vantagem contra as várias tentativas de aeronaves voltadas para carga que não deram certo é que já operamos no modal aéreo há muitos anos. Somos um dos maiores embarcadores de carga aérea no Brasil”, disse.
Maurício Lima, sócio diretor da consultoria especializada em logística Ilos, destacou que o comércio eletrônico tem sustentado a demanda por serviços logísticos onde o foco hoje é prazo.
“Quando a carga está no avião de passageiro, há restrições de envio e o prestador de serviço de transporte aéreo acaba ficando vulnerável”, disse, apontando competição por espaço.
O especialista destacou que a perspectiva de demanda é positiva no futuro, com o comércio eletrônico se popularizando e incluindo até produtos de menor valor agregado - antes, era mais focado em perecíveis e eletrônicos. O modal aéreo, acrescentou, tem ganhado relevância em rotas acima de 2 mil km, onde o rodoviário acaba ficando menos competitivo por custo e prazo.
Fonte: Valor Econômico