A colheita brasileira de grãos na temporada 2022/23, que, ao que tudo indica, deverá atingir volume recorde, tende a elevar a demanda por transportes a partir deste mês de janeiro. Apesar disso, a expectativa do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (EsalqLog) da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” é que os preços médios dos fretes rodoviários de cargas do agro subam entre 5% e 10%, bem menos do que no ciclo passado, quando o aumento foi de mais de 50%.
De acordo com o pesquisador Fernando Bastiani, o preço do diesel é o que explica a projeção de altas amenas para o valor do frete. “Passado o pico da covid-19 e o susto com a guerra na Ucrânia, a cotação do petróleo tem oscilado em patamares mais baixos. Isso fez o preço do diesel cair no Brasil”, comentou.
O barril do petróleo do tipo Brent, referência internacional, chegou a custar US$ 138 em março, mas começou a cair a partir de junho. Na última sexta-feira, os contratos do Brent para março fecharam o dia cotados a US$ 85,91. O diesel sai por R$ 4,49 nas refinarias brasileiras, depois de a Petrobras ter feito vários cortes para garantir a paridade de política de importação (PPI).
Além disso, a normalidade do calendário de plantio nesta safra também tira do radar pressões de concentração de demanda por frete, como ocorreu em 2020/21, quando o escoamento da soja concorreu com o açúcar. “A colheita deverá se estender do fim de dezembro - caso de alguns pontos de Mato Grosso - até abril, quando terminará no Sul do país”, diz Bastiani.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que o país vai colher 153,5 milhões de toneladas de soja nesta temporada, ou 22,2% a mais do que em 2021/22. No caso da primeira safra de milho, a estatal prevê aumento de 8,8%, para 27,2 milhões de toneladas.
Segundo a EsalqLog, o aumento dos preços do frete ocorrerá principalmente nas rotas que levam aos portos do Arco Norte, já que o crescimento da safra tem sido absorvido por esse corredor logístico. “Não há nenhuma razão relacionada a estradas ou problemas logísticos, e sim ao aumento da demanda”, afirma o pesquisador.
Como o plantio segue em andamento em várias regiões, Bastiani ainda não fez cálculos de reajuste por rota, mas acredita que os valores médios do frete de grãos no começo do ano ultrapassarão as indicações da tabela mínima de frete rodoviário. A EsalqLog/USP foi a entidade que elaborou a tabela de referência a pedido da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
Após o choque do início da guerra da Ucrânia, há quase um ano, o transporte de fertilizantes, conhecido como frete de retorno, também tende a ser mais estável neste ciclo. “No ano passado, devido ao início da guerra e às incertezas sobre o abastecimento de insumos, empresas e produtores correram para comprar fertilizantes no primeiro semestre, o que gerou escassez de frete de retorno no segundo semestre. Mas, em 2023, o fluxo deverá voltar ao normal, com o volume de compras desses insumos sendo maior a partir de julho”, diz Bastiani.
Para ele, se não houver surpresas relacionadas à guerra, o reajuste do valor do transporte rodoviário deve acompanhar o dos grãos, ficando entre 5% e 10%. O mesmo deve acontecer com a safra de milho de inverno, que ainda está longe de ser semeada. A Conab estima que a segunda safra de milho chegará a 96,3 milhões de toneladas, um volume 12,1% maior do que o de 2021/22.
Fonte: Valor Econômico