O diretor-executivo de comercialização e logística da Petrobras, Claudio Mastella, disse que, no cenário atual de abertura de mercado de combustíveis, os investidores têm que se sentir confiantes para participar do segmento de “downstream”, com regras estáveis que proporcionem segurança. Segundo ele, a indústria do petróleo é conservadora, com investimentos e decisões de longo prazo e não está acostumada a lidar com cenários instáveis, especialmente conforme ocorrido nos últimos anos.
Ao participar do X Seminário sobre Matriz e Segurança Energética, realizado na quarta-feira (30) pela FGV, o executivo destacou que a greve dos caminhoneiros realizada em 2018 despertou um quadro que classificou de “emaranhado regulatório”, e afirmou que é preciso “revisitar” as regras. Ao lado do diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Rodolfo Saboia, em um dos painéis do evento, Mastella salientou que vê a agência empenhada em simplificar a regulação, na parte que cabe a ela.
O diretor da Petrobras ressaltou que no início da pandemia, em 2020, o preço do barril do petróleo despencou para cerca de US$ 20, para depois subir para mais de US$ 100, criando um ambiente de imprevisibilidade de preços. “Não há ninguém que consiga enxergar um cenário tranquilo hoje em dia. A gente tem que conviver com isso”, disse. Ainda de acordo com Mastella, a decisão de abrir o mercado de combustíveis, com mais concorrência, é positiva, mas tem consequências a partir da participação de vários agentes.
Mastella disse ainda que a empresa seguirá investindo em diesel renovável coprocessado, mesmo após o presidente Jair Bolsonaro vetar a adição do produto ao óleo diesel tradicional. O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) havia autorizado na semana passada a adoção de qualquer rota tecnológica de produção de biodiesel ao diesel fóssil. O diesel coprocessado é uma tecnologia diferente da utilizada atualmente na produção do biodiesel que é misturado ao diesel, cujo percentual de adição é de 10%. Esse nível será mantido até março de 2023.
Com isso, o diesel R5 da Petrobras, resultante de coprocessamento de petróleo e 5% de óleo vegetal, disputaria espaço no mandato reduzido do biocombustível puro. Mastella disse esperar que o mandato seja flexibilizado, o que, segundo o executivo, “é o caminho natural”.
Saboia, da ANP, afirmou que a agência está testando o novo sistema de monitoramento do abastecimento de combustíveis, que passará a ser diário, em vez do atual modelo, mensal. Segundo ele, o teste está sendo feito em algumas regiões do país para adaptar os agentes ao novo sistema. A data de lançamento do novo sistema diário de monitoramento está prevista para o dia 16 de fevereiro, disse Saboia.
Segundo ele, o monitoramento diário, denominado Simac, mostrará o nível dos estoques e mesmo o trânsito de combustíveis em navios e dutos, “como se fosse um filme”, em vez da “fotografia” que o atual sistema mensal produz. Para Saboia, o acompanhamento do mercado se tornou desafiador porque até pouco tempo atrás a Petrobras era o único agente de mercado, diferente da atual realidade, com múltiplos participantes.
Ele explicou que a abertura de mercado trouxe diversos agentes para o país, nos segmentos de refino e logística. Logo, o monitoramento do mercado ficou com ferramentas e processos que agora se tornaram inadequados. “Em caso de problema com uma refinaria, por exemplo, bastava pegar o telefone e ligar para a Petrobras. Agora, é preciso um sistema que permita esse controle”, disse Saboia.
O diretor-geral da ANP disse ainda que não foi procurado pela equipe de transição e que aguarda um contato para reunião em breve, possivelmente na semana que vem. A agência apresentará a agenda regulatória do setor assim que a reunião com o grupo for realizada, disse Saboia, que pretende colocar a agência à disposição da nova formação do CNPE. Por ter mandato fixo, de quatro anos, Saboia não pode ser demitido pelo futuro governo, assim como os demais diretores. Ele assumiu o comando da ANP em dezembro de 2020.
Fonte: Valor Econômico