A expansão da gripe aviária no mundo colocou o Brasil no foco do fornecimento de frango, levando o país a recordes nas exportações em 2023. Atenta a esse movimento, a companhia de logística Brado, subsidiária da Rumo, teve um avanço de 16% no transporte da carne congelada por ferrovia, para a máxima histórica de 8.346 contêineres no primeiro trimestre.
O vírus da influenza aviária de alta patogenicidade (H5N1) também já chegou ao solo brasileiro, mas ainda atinge somente aves silvestres, o que não compromete as granjas comerciais e permite a manutenção dos fluxos para os mercados interno e externo.
“Até o momento, não houve impacto no volume transportado pela Brado. As operações continuam com viés de alta em relação ao ano passado”, disse à Globo Rural Graciele Santos, gerente de Contas da empresa. O frango transportado pela companhia sai de regiões de avicultura do Paraná, maior Estado produtor e exportador do país, e segue para o porto de Paranaguá, com destino a países como China, África do Sul, Japão, Emirados Árabes Unidos, Filipinas e México.
“Os números acompanham o crescimento desse mercado (...) O Brasil registrou aumento de 15,1% nas exportações (de frango) no primeiro trimestre”, acrescentou a executiva, citando dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
Segundo a associação, esse ritmo se manteve elevado, tanto que no acumulado do ano até maio o país também registrou recorde nas vendas externas do produto, de 2,183 milhões de toneladas.
“Estamos enviando bem mais do que no mesmo período do ano passado e isso se dá pelos problemas de gripe aviária no mundo”, disse Yago Travagini Ferreira, head de proteína animal da consultoria Agrifatto.
Ele afirmou que é difícil precisar quanto o transporte ferroviário de frango representa para o Brasil, porque nem todas as regiões produtoras têm acesso a ferrovias, mas estima-se que entre 20% e 40% da proteína que é embarcada pelo país passe por esse modal. Em geral, a maior parte das cargas agropecuárias são transportadas por rodovias.
Mais barato
A principal vantagem do transporte ferroviário de frango está atrelada ao custo menor. Considerando o mesmo trajeto feito pela Brado até o porto, Ferreira estima que a economia por seguir de trem, em relação ao escoamento por caminhão, ficaria entre 6% e 10%.
“Além disso, há mais segurança, por ter menos risco proporcional de ser furtada/roubada e também maior certeza que será embarcada na data combinada”, disse ele.
Para a gerente da Brado, além do cenário promissor, um fator que alavancou os resultados foi a entrada de novos clientes. A companhia também conta com uma localização considerada estratégica, com terminais nos municípios paranaenses de Cascavel (parceiro) e Cambé. “Somos responsáveis pelo transporte de grande parte de todo o frango exportado pelo Paraná”, disse.
Por onde vai?
A operação começa no porto de Paranaguá, de onde o contêiner refrigerado sai vazio em direção aos terminais multimodais.
Em Cambé, o contêiner passa por um processo de preparação, que inclui testes do maquinário e de temperatura, eventuais reparos em avarias estruturais e higienização. A avaliação é feita por empresas nomeadas pelos armadores, que são donos dos contêineres.
Assim que o equipamento está apto, ele é transportado de caminhão para o abatedouro, onde é carregado com cerca de 27 toneladas de cortes variados de frango congelado e embalado, e tem a documentação emitida.
O contêiner volta ao terminal, onde é ligado na energia elétrica e, enquanto está no pátio, passa por frequentes monitoramentos de temperatura. Cada cliente tem suas especificações, mas, em média, a temperatura de saída da fábrica para os contêineres é de -18 graus Celsius.
Segundo a Brado, os contêineres são carregados em trens de 41 vagões, que percorrem 633 quilômetros em cerca de três dias e meio pela ferrovia que chega até o porto. “A produtividade ferroviária melhorou muito nos últimos anos. Há cerca de cinco anos, o ‘transit time’ (tempo de deslocamento) de Cambé a Paranaguá era de cinco a seis dias. Essa redução gera bastante benefício na solução Brado, por se tratar de uma carga perecível, de valor agregado, cuja produtividade vem aumentando”, lembrou Graciele.
A cada dia desligados, a temperatura dos contêineres aumenta cerca de 1 grau. No porto, eles recebem nova carga de energia e no navio permanecem ligados durante toda a viagem.
Fonte: Valor Econômico