Os bloqueios que ocorrem nas estradas do país nesta segunda-feira (31), após o resultado do segundo turno, completaram cerca de 24 horas após os primeiros vídeos circularem nas redes sociais. Com os protestos ainda muito recentes, são incertos a dimensão e o tempo que irão durar, mas alguns pontos de atenção estão no radar.
Em um primeiro momento, setores de logística, como empresas de frete rodoviário e de distribuição de combustíveis, e do agronegócio são vistos com os mais suscetíveis. Porém, os efeitos poderão escalar, a depender do tamanho e do tempo que as manifestações tomarão.
“O que chama a atenção é que essas manifestações são tocadas por lideranças locais, até o momento não emergiu um comando nacional, o que dificulta uma negociação e saber o que vai acontecer”, explica Edeon Vaz Ferreira, coordenador do Movimento Pró-Logística, ligado ao agronegócio.
Na lista de estradas, muitas delas são ligadas a atividade agropecuária, um dos principais setores de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL), que saiu derrotado da sua tentativa de reeleição neste domingo (30) – Bolsonaro perdeu para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que conquistou seu terceiro mandato em votação apertada.
Para Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, qualquer conclusão seria precipitada no momento. Mas, ao fazer o paralelo com a greve dos caminhoneiros de 2018, o cenário poderia ser muito ruim para a economia.
“A greve [de 2018] durou dez dias e os efeitos foram imediatos, causando a interrupção do fornecimento de bens e insumos básicos para diversas cidades. Na economia, essa paralisação teve um efeito inflacionário durante o mês que ocorreu, tivemos um grande aumento no IPCA (+1,26%) e, além disso, o PIB foi bastante impactado”, diz.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que, por volta de 18h30, foram 236 ocorrências registradas nas estradas brasileiras, em 20 estados.
Lermen, acreditando que até quarta a situação nas estradas deve estar normalizada.
Setor logístico ainda monitora
A Associação dos Operadores Logísticos (Abol) afirmou ao InfoMoney que ainda não é possível dimensionar os dados das paralisações até o momento, mesma avaliação da Associação Brasiliera das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), que representa as grandes tradings agrícolas.
A Rumo (RAIL3) afirmou, por meio de nota, que sua operação não foi afetada até o momento. A JSL (JSLG3) afirmou que está em período de silêncio, por conta da divulgação de seu balanço trimestral nesta semana, e não irá se manifestar.
“Se a greve durar poucos dias, o impacto nas companhias de logísticas seria muito baixo. Agora, se for uma greve de duas semanas, por exemplo, aí sim haveria problemas em distribuidoras de combustíveis, como Vibra (VBBR3) e Raízen (RAIZ4), mas eu não acredito em uma paralisação muito longa”, afirma Flávio Conde, analista da Levante.
Outro analista, que acompanha as empresas de logística da Bolsa e prefere não se identificar, acredita que as manifestações não deverão durar muito, uma vez que não conta com apoio das entidades de classe.
Procurada, a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), que tem diálogo mais próximo com o governo de Bolsonaro, afirmou que vai se reunir para avaliar a situação. A entidade não informou se apoia as manifestações.
Empresa adota transporte aéreo
A Temp Log, operadora logística especializada na indústria farmacêutica, informou que encontrou bloqueios na sua operação no Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.
Segundo a companhia, para evitar atrasos, adotou como alternativa o uso de frete por aviões. “Toda operação que exige transferência interestadual, feita normalmente por rodovias, está sendo direcionada para o transporte aéreo”, afirma, em nota.
A operadora também destacou que por se tratar do último dia do mês, o impacto torna-se ainda maior, já que muitas empresas aproveitam a data para fazer fechamento, cumprir metas e realizar as últimas vendas. E a venda só é concretizada se a entrega acontecer.
Fonte: Infomoney
*Com Reuters