A contratação de mulheres cresceu no setor logístico nos últimos cinco anos, segundo aponta pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Operadores Logísticos (Abol). Entre as empresas que fizeram parte do levantamento, 72,2% informaram que a admissão de funcionárias aumentou. Entre as profissionais contratadas, 76,5% foram para cargos administrativos e 23,5% para operacionais.
Para Marcella Cunha, Diretora Executiva da Abol, há espaços para as mulheres ocuparem, principalmente na área de operações e de liderança. De acordo com ela, existe um aumento na contratação feminina, mas ainda não é significativo na área operacional e de chefia.
“No nosso grupo de operadores logísticos, a gente observa um crescimento inédito da participação feminina no mercado, de cinco anos pra cá, particularmente. É uma tendência que veio para ficar. Em um futuro breve, não falaremos mais sobre equidade de gênero ou salarial porque não haverá necessidade, mas até lá temos que falar, que explorar e refletir”, analisa Marcella.
Ela diz que é preciso criar políticas específicas dentro das empresas que visem contratar minorias, diversificar as equipes e as funções.
“Estudos comprovam que quanto mais diversificada é uma equipe, mais produtiva e eficiente ela se torna. Então não tem motivo para não olhar para isso com um olhar estratégico”, comenta Marcella.
Mayhara Chaves, primeira mulher a presidir a Associação Brasileira das Entidades Portuárias e Hidroviárias (Abeph) em 62 anos de fundação, e primeira mulher à presidir a Companhia Docas do Ceará, pode ser considerada um exemplo deste novo olhar do mercado logístico sobre as mulheres. Até então, todos os presidentes destes órgãos eram homens.
A presidente conta que, em conversas com pessoas que trabalhavam nos portos há dez anos, não se tinha notícias de mulheres exercendo cargos neste setor.
“É um movimento novo que ainda estamos trilhando. Hoje somos poucas, mas é visível a evolução do mercado nos últimos anos”, comenta.
Para ela, é preciso que mulheres que já alcançaram cargos de gestão incentivem outras e tragam profissionais femininas para o setor.
Para se ter uma ideia do quão novo é a reflexão deste tema, Mayara explica que não há nenhum levantamento que mostre a situação das mulheres no passado dos portos.
“Agora que as associações começaram a fazes estudos e mapeamentos neste sentido. Daqui a alguns anos conseguiremos ter informações e comparativos”, diz.
Sobre as vantagens de ter mulheres nas equipes, Mayhara comenta que, além da capacidade técnica, elas têm naturalmente um perfil que contribui para a cultura interna, como capacidade de organização, empatia, flexibilidade e perfil multitarefa.
“Estamos acostumadas a fazer a gestão da casa, dos filhos, das relações, então esse comportamento atento a tudo acaba refletindo positivamente no trabalho profissional”, analisa.
Cada vez mais mulheres ocupam cargos considerados “masculinos”
Rafaela Siciliano tem 42 anos e é gerente de Desembaraço Aduaneiro na Marimex – Inteligência Portuária em Logística Integrada, em Santos. Quando chegou, em 2014, assumiu o lugar de um homem.
Até então, só profissionais do sexo masculino haviam exercido esta função e, segundo ela, o maior desafio foi adaptar a equipe à sua forma de trabalhar. Na época, a maioria dos gestores eram homens e na hora das reuniões gerenciais ela era a única mulher.
“No início sentia um frio na barriga por ser só eu. Pensava que precisava conquistar a confiança deles e, em alguns momentos, tinha receio que me avaliassem como muito jovem para o cargo, já que tinham tantos anos de casa e também de experiência”, conta.
Mas com conhecimento técnico em sua função, Rafaela conquistou seu espaço e atualmente conta com quatro mulheres gestoras em sua equipe.
“Hoje, por incrível que pareça, todas as gestoras diretas são mulheres. No passado não. Foi mudando o time de liderança com o tempo, mas foi algo natural”.
Vivian Merola, gerente de Qualidade, Saúde, Segurança do Trabalho, Meio Ambiente e Compliance também atua na Marimex. Com experiência no setor portuário há mais de 10 anos, Vivian acredita que a medida que as instalações portuárias se aliam à tecnologia em suas operações, mais espaço as mulheres têm.
“Antes era preciso a força da estiva, então isso tornava o porto um ambiente muito masculinizado. Hoje, com as operações automatizadas, se abre um espaço mais democrático, amplo e forte para as mulheres. E não só na área administrativa, vejo mulheres operando empilhadeira e movimentando toneladas por dia, isso é um orgulho para nós”, avalia Vivian.
Para ela é importante que as mulheres tenham conhecimento amplo dos assuntos para conseguirem ter voz e desmistificar que “o porto é coisa de homem”.
“Quando uma mulher fala e atenção não é a mesma dada aos homens, mas quando ela fala com conhecimento técnico e atua com firmeza, essa postura indelicada fica para trás”, afirma.
Já Maria Izabel Magalhães é economista, tem 56 anos e atua na Agência Porto, uma empresa de consultoria portuária. Quando foi convidada a assumir o posto, a empresa era composta somente por homens.
Maria acredita que as mulheres precisam batalhar muito para conseguirem se destacar. “Quando você chega em uma reunião e sabe o que falar, ganha respeito e visibilidade”, explica.
Ela afirma que prefere trabalhar com mulheres porque acha o trabalho feminino mais delicado, minucioso e detalhista. Além disso, acredita que é preciso dar oportunidades às mulheres que, por serem mães, têm menos chance de se recolocarem no mercado de trabalho.
“Falta um olhar especial das gestões empresariais para com as mães. É muito difícil adequar a maternidade à carreira e quando se têm homens gerindo essas situações, às vezes, falta empatia”, considera.
Quando era bancária, Maria conta que sofreu muito para conseguir se adaptar ao trabalho após tornar-se mãe e mesmo com vontade de engravidar novamente não o fez por medo do impacto que um segundo filho poderia trazer à carreira.
“Foi uma fase difícil e que me impactou tanto que hoje dou preferência para contratar mães e em home office. Assim elas adequam seus próprios horários, sem exigências, e funciona muito bem desta maneira. Mulheres precisam de flexibilidade de horários nas empresas porque exercem muitas funções além da profissional, mas ainda hoje é difícil encontrar essa visão em gestões tão permeadas por homens”, pontua a economista.
Fonte: Jornal Be News
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