Por Paulo Roberto Guedes - consultor da ABOL
Em virtude do avanço tecnológico e da pandemia, já não havia qualquer dúvida quanto às profundas mudanças que se processariam em toda a sociedade mundial. E em todos os aspectos. Agora, diante da invasão da Ucrânia pela Rússia, parece estar claro que o mundo todo, nos próximos cinco ou dez anos, ainda terá que assimilar novos e significativos impactos, geopolíticos, econômicos e sociais. Inclusive de uma mudança na ordem mundial.
Diante das atuais circunstâncias tem sido unânime o entendimento de que o ritmo de crescimento econômico mundial será muito menor, haverá falta de diversos produtos, a inflação será maior e os investimentos declinarão em níveis maiores ou menores dependendo da evolução do conflito. Consequentemente e inevitavelmente, também haverá desorganização de grande parte do setor produtivo e, em face de significativa desestruturação das cadeias de abastecimento em todo o mundo, aumentos significativos nos fretes e nos transportes, como já vinha ocorrendo desde o início da pandemia.
E se é claro que as interrupções na produção e nas cadeias de abastecimento, bem como as dificuldades logísticas correspondentes que se apresentam, não são desejadas por ninguém, muito menos por aqueles diretamente envolvidos nos mercados mais afetados pelo conflito, há que se considerar que os riscos, mais do que isso, as incertezas, são globais e totais. Nos médio e longo prazos os impactos serão percebidos em todos os mercados. Com maior ou menor intensidade, dependendo do produto, da região ou do país, mas sem dúvida em todo o mundo.
De fato, o assunto é complexo e há inúmeras outras questões a se considerar, pois os precedentes ‘criados’ pela Rússia poderão estimular outros países a agirem da mesma forma. E o Sr. Putin, estará disposto a insistir no uso da força e na repressão para fazer prevalecer seus desejos?
Os impactos no Brasil serão enormes e as possibilidades de enfrentarmos uma estagflação, que já não era descartável antes do conflito, agora, considerando o cenário mundial atual, tem aumentado suas probabilidades.
E caso haja piora nos fluxos internacionais de investimentos e de financiamento, e consequentemente um aumento de “seletividade”, caso o Brasil queira ser um dos destinatários final desses recursos, terá que mostrar, além de reais condições de mercado e de estabilidade política e econômica, posicionamento que esteja de acordo com o que defendem os países democráticos do mundo ocidental.E este é um outro problema, pois tanto o atual presidente, Sr. Bolsonaro, como o principal candidato, Sr. Lula, parecem estar de acordo com os principais pensamentos de Putin.
É fato que a Democracia e o Estado de Direito, em todo o mundo, enfrentam problemas, e agora mais do que nunca, pois não interessa a governos autocráticos e a ditadores, manter a ordem internacional atual, em cujas regras e normas não se permite, por exemplo, avançar sobre territórios soberanos.
Não parece haver dúvidas que dentre os objetivos maiores de Vladimir Putin,cuja invasão da Ucrânia é mais um ‘ato’, é impedir o avanço dos valores democráticos e liberais em regiões próximas ou vizinhas do território russo. A Ucrânia, depois de conseguir se livrar das amarras impostas pela antiga União Soviética, decidiu já em 2014, estabelecer no país, um regime democrático. E isso não está nos planos de Putin.