Por Rosinda Angela da Silva
Quem trabalha no comércio exterior acompanhou a fábrica do mundo (a China) vivenciar uma das situações mais complexas dos últimos anos. Esse ensaio é um convite a uma singela reflexão sobre alguns pontos que tem impactado os negócios internacionais em 2020.
Historicamente, as empresas que importam produtos do gigante asiático, sejam mercadorias para revenda, componentes para montagem ou matérias-primas para produção no Brasil, já estão habituadas a iniciar o processo de compra no final de agosto/ início de setembro. Isso se faz necessário porque o lead time é longo, pois alguns produtos necessitam de 70 dias para produção. Somando cerca de 40 dias empurrando águas e mais o processo de desembaraço aduaneiro, já temos 110 dias. Se tudo der certo, podemos contar com o produto para ser utilizado em aproximadamente 120 dias. Tudo isso? Sim, tudo isso.
E quem deixa para importar depois consegue produtos? Provavelmente sim, mas fica à mercê de negociações de última hora e tem outro agravante a se preocupar: o ano novo chinês, que é um feriado que simplesmente estagna o comércio exterior em todo o mundo. Em 2020, esse feriado ocorreu de 25 de janeiro a 11 de fevereiro e foi atípico devido à pandemia de Covid-19, que nesse período do feriado chinês começou a ganhar o mundo.
A partir de então, o mundo assistiu atônito o contágio se alastrando e cada país tomando as suas ações na tentativa de conter a rápida proliferação. As fronteiras foram fechadas; as empresas mandaram seus colaboradores para casa; lojas, academias, shoppings, restaurantes, cinemas, teatros, bares, centros de eventos, escolas, universidades, estádios, parques públicos, tudo fechado!
E qual a relação disso com o comércio exterior? Impacto no consumo!
Produtos hospitalares como (máscaras, luvas descartáveis, álcool gel), equipamentos médicos como respiradores, equipamentos de tecnologia (notebooks, câmeras, desktops, fones de ouvido para ajustar as residências para possibilitarem home office) e também equipamentos para exercícios físicos foram os primeiros produtos que apresentaram salto nas vendas instantaneamente. Bom, se os produtos foram vendidos, o estoque necessitará de reposição, certo? Sim, isso mesmo. E como estavam as indústrias nesse período?
Nas indústrias, o impacto foi diferente: no primeiro momento, a China estava com a produção parada, tentando conter a pandemia. No segundo momento, o Brasil estava com a produção industrial interrompida, e, como consequência, importações foram canceladas ou postergadas, pois ninguém sabia o que poderia acontecer com o mercado.
Esse período de produção interrompida impactou diretamente na procura pelo frete marítimo internacional, que, como sabemos, é elemento essencial no comércio entre nações.
Quem trabalha com comércio exterior já sabe que os valores dos fretes internacionais são extremamente voláteis e seguem as regras de oferta x demanda. Assim, quando o volume de importações globais foi diminuindo, o valor do frete apresentou queda, mas quando a pandemia se mostrou aparentemente controlada, as negociações internacionais voltaram a crescer e iniciou a disputa por espaços nos navios de cargas.
Para compreender esse mecanismo, a título de exemplo, a tabela 1 traz os valores de fretes praticados das semanas 01 a 38 do ano de 2020 para contêineres de 20 pés, com os valores abrangendo os portos de origem: Shangai, Shenzen, Rongqi, Beijiao, Shantou, Xiaolon, Huangpu, Taichung, Keelung, Kaohsiung, Bangkok, Leliu para os portos de destino de Paranaguá (PR) e Itajaí (SC).
Em relação aos valores apresentados, temos que no mês de janeiro os valores costumam ser relativamente altos, devido aos embarques que antecedem o ano novo chinês. Já o mês de fevereiro apresenta uma faixa de valores que inicia menor que o realizado em janeiro, mas com tendência de alta.
Em meses “normais”, ou seja, sem incidência de PSS – Peak Season Surcharge (Sobretaxa imposta pelas companhias marítimas por ser alta temporada, de abril a novembro de cada ano), ou até de GRI – General Rate Increase (aumento geral das tarifas impostos pelos armadores dos navios, normalmente aplicadas em rotas na América do Sul e Estados Unidos) temos duas tabelas de frete ao mês, o que nos permite um acompanhamento quinzenal. No entanto, na tabela 1 observa-se que o mês de março apresentou instabilidade e foram utilizadas tabelas semanais com reduções.
O mês de abril mostrou acomodação com valores acessíveis, no entanto, a procura por frete foi fraca, o que não corresponde ao início do PSS em anos anteriores. Maio apresentou três tabelas onde manteve o valor do frete em queda e junho/julho, foram os meses onde os valores praticados foram os mais baixos.
Já em agosto, o mercado de fretes começou a mostrar recuperação devido ao aumento dos fluxos de importações e exportações dos países europeus, os armadores viram um cenário positivo a ser aproveitado. E, como é possível observar, o mês de setembro trouxe consigo os aumentos significativos dos valores do frete internacional por contêiner de 20’. A oscilação desses valores demonstra o quão instável tem sido os valores de fretes marítimos nesse ano de 2020, mesmo com todo o estresse global causado nos mercados por conta da pandemia.
O impacto desses aumentos consecutivos, principalmente no mês de setembro (que é um mês crucial para iniciar o processo de abastecimento para os produtos para o Black Friday e para Natal no Brasil), que traz esses valores exorbitantes, certamente impactará nos resultados das empresas importadoras, que já não foram tão interessantes nesse ano.
Em meio a tudo isso, tivemos também o aumento gradativo da taxa do dólar. Como podemos perceber ainda na tabela 1, a partir de março a cotação do último dia do mês não baixou dos R$ 5,00 por dólar e isso impacta diretamente nas empresas importadoras, já que o dólar é a moeda franca do comércio exterior. Um frete para um contêiner de 20’, que na segunda quinzena de julho poderia ser encontrado por US$ 565.00, na segunda quinzena de setembro já está sendo ofertado a US$ 3900.00 — e sem garantia de espaço no navio, o que já é motivo para preocupação para os profissionais de comércio exterior que são responsáveis por negociar embarques com preços competitivos.
Mesmo entre tantos outros desafios que as empresas brasileiras têm enfrentado neste ano, o fato é que o ano de 2020 ainda não acabou! E não sabemos quais outras surpresas ainda estão por vir!
Rosinda Angela da Silva é professora de Administração e Logística do Centro Universitário Uninter
Fonte: Portos e Navios
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