A capital baiana, Salvador, é primeira cidade brasileira a contar com um projeto avançado de logística aérea não tripulada, utilizando drones integrados a modais limpos como bicicletas e motos elétricas para entrega de mercadorias. A rede, em fase final de testes, conta com 11 pontos de pousos e decolagens, os chamados droneports, ao redor da península soteropolitana. A experiência baiana é só o começo do que vem pela frente. Com a evolução da tecnologia embarcada nessas aeronaves, os níveis de segurança e autonomia aumentaram e sua utilização em novos modelos de negócios é uma realidade. A integração com outros sistemas de transporte também tem feito diferença em um setor que não para de crescer desde antes da pandemia do coronavírus, período em que os fabricantes de drones voaram mais alto, apesar da economia ter recuado.
Criado e operacionalizado pela Speedbird Aero, startup brasileira, com sede em Franca, interior paulista, o projeto de Salvador conta com o apoio da prefeitura, Marinha e Aeronáutica e, nessa primeira fase, está transportando mercadorias de empresas do porte de Natura e Avon, Neodent, Grupo Pardini e iFood. No total, os 11 pontos da rede têm capacidade para atender uma população de 1,5 milhão de pessoas por cada trecho, e voam de ponto a ponto cobrindo pouco mais de 30 km. Por enquanto, dois modelos de drones, um com capacidade para transportar cargas de 2,5 kg a 5 kg, estão operando na rota desde outubro. A partir de 2023, os drones devem voar até a ilha de Itaparica, totalizando 50 quilômetros. “A meta é povoar essas rotas com inúmeros clientes ao longo de 2023. Estamos confiantes de que será uma evolução gradativa, e forte”, conta Manoel Coelho, CEO e cofundador da Speedbird.
Entre os aplicativos de delivery, o iFood, maior foodtech da América Latina, tem apostado em projetos inovadores de entrega com drones. Junto com a Speedbird, o aplicativo de delivery é o primeiro nas Américas a ter permissão para usar drones no seu serviço de entregas. A Agência Nacional de Aviação Aérea (Anac) autorizou a operação em 2019, mas somente em agosto de 2020, as duas empresas obtiveram o Certificado de Autorização de Voo Experimental (Cave), documento que permitiu o início dos projetos com drones.
A primeira rota autorizada pela Anac compreendia sobrevoos no Shopping Iguatemi de Campinas (SP). A chegada da pandemia suspendeu o trabalho que só foi retomado no final de 2020. Na época, os drones percorreram uma distância de cerca de 400 metros, do terraço do centro de compras ao iFood hub do Iguatemi. O trajeto que a pé levaria 12 minutos, foi feito pela aeronave em 3 minutos. Durante os dois meses de testes, o iFood entregou 306 pedidos utilizando drones e atendeu 17 restaurantes. Em 2021, em uma nova rodada de testes, desta vez em Aracaju, Sergipe, os drones voaram percursos maiores, partindo do shopping RioMar até a Barra dos Coqueiros, atravessando o rio Sergipe. Em janeiro, o iFood e a Speedbird receberam autorização para entregas com aeronaves não tripuláveis em todo o território nacional, voando até 120 m de altura com cargas de até 2,5 Kg.
Os drones fabricados pela Speedbird completam o trabalho tradicional realizado pelos entregadores humanos e não vão chegar à porta do cliente, mas realizar a primeira parte dos trajetos e percorrer distâncias maiores, que incluem regiões ou trechos de difícil acesso. Outro novo projeto, semelhante ao de Salvador e também estruturado pela Speedbird, está sendo testado na orla do Rio de Janeiro, entre os bairros de Jacarepaguá e Barra da Tijuca. Com apoio do projeto Sandbox.Rio, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Inovação do governo carioca, as empresas podem testar em um ambiente controlado produtos e serviços que ainda não se enquadram nas regras vigentes.
Grandes empresas como a AmBev e Natura vêm investindo em novas plataformas de entrega de seus produtos, e a utilização de drones ganhou espaço há pelo menos dois anos, entre outras razões porque a tecnologia não gera emissões de gases de efeito-estufa. Em 2021, a cervejaria utilizou drones da Speedbird para um voo em Jaguariúna, interior de São Paulo. O aparelho percorreu 2,5 km e transportou bebidas da fábrica até um condomínio residencial.
A utilização dessas aeronaves nas entregas de produtos de primeira necessidade e bens de consumo é uma tendência mundial. Segundo a alemã Droneii, especializada em pesquisas do setor, a taxa de crescimento anual do mercado mundial de drones deve ficar em 13,8%, entre 2020 e 2025, quando chegaria a US$ 43 bilhões. No Brasil, o faturamento anual estimado é de US$ 373 milhões.
O diretor do Rappi Turbo, Eric Dhaese, diz que a empresa valoriza a tecnologia de algoritmos para aperfeiçoar constantemente seus serviços, mas não tem no horizonte próximo a aplicação de entregas automatizadas como drones ou robôs. “Na logística de entrega, a inteligência trabalha para atender os pedidos e distribuí-los entre os diferentes modais, utilizando critérios como vertical, distância, otimização do deslocamento, e disponibilidade de produto na região”, afirma o executivo.
Grégorio Bolasco, vice-presidente de novos negócios da Loggi, informa que a empresa está focada em tecnologias que estão complementando sua malha logística para atender desde entregas locais imediatas e para o mesmo dia em todo o território nacional. A novidade, segundo ele, é o processo de evolução do seu aplicativo. Lançado recentemente, o app incorporou algoritmos mais potentes, permitindo mais agilidade e menos tempo na coleta e entrega de mercadorias e serviços. Ele também ampliou a coleta com rotas ponto a ponto dentro da mesma cidade para pessoas físicas e pequenos escritório. “Queremos democratizar o sistema de coletas e baixar o custo desses serviços”, diz.
Fonte: Valor Econômico