Uma das saídas é garantir às marcas a possibilidade de armazenar estoques próximos do consumidor para permitir entregas rápidas. Para este ano, a multinacional de logística espera alta entre 11% e 15% no volume de envios nos meses de novembro e dezembro
A alta temporada de vendas marcada pela Black Friday e pelo Natal continua a ser o grande teste para a logística brasileira. Porém, a preparação para 2025 não se limita aos picos tradicionais de fim de ano: o setor precisa se adaptar a um cenário de picos múltiplos e imprevisíveis de vendas ao longo do ano puxados pelas plataformas asiáticas e o avanço do live commerce e do social commerce, que transformaram o comportamento de compra e exigem velocidade inédita na última milha (last mile).
Apesar da volatilidade geopolítica e econômica global, as expectativas para o peak season - ou a alta temporada de fim de ano - continuam fortes, segundo os CEOs Plinio Pereira, da DHL Supply Chain Brasil, Mirelle Griesius Maustschke, da DHL Express Brasil, e Eric Brenner, da DHL Global Forwarding Brasil, que participaram de live sobre o tema na terça-feira (07).
Para este ano, a expectativa é de forte crescimento com dois dígitos, impulsionado por campanhas agressivas de frete grátis lançadas pelos grandes marketplaces. Mirelle, da DHL Express, reforça essa projeção, estimando um aumento de volume entre 11% e 15% para os meses de novembro e dezembro - movimento que já começou entre o primeiro e o segundo semestre.
"Vemos um patamar de volumes mais forte do que a gente esperava para esse momento do ano, e a tendência é permanecer assim", afirmou ela. A CEO da Express Brasil alertou também que, para além das vendas tradicionais, as empresas devem se preparar desde já para os "saldões" que se estendem para janeiro e fevereiro, prolongando o volume de picos.
A questão, segundo Eric Brenner, é que não há mais um único pico anual, mas uma sequência constante ao longo do ano, destacando a influência de eventos como o Golden Week chinês e campanhas mensais promovidas por plataformas asiáticas - vide o 07/07 ou o 09/09, entre outros. Para lidar com essa nova realidade, é essencial um planejamento rigoroso e uma operação flexível, com acordos antecipados com armadores e companhias aéreas e o uso de soluções multimodais, disse. “Hoje, o cliente exige transparência total do fluxo das cargas do embarque à entrega, com possibilidade até de trocar de modal em tempo real.”
Destacando que o e-commerce brasileiro nunca mais voltou ao patamar pré-pandemia porque continuou a crescer, Plinio Pereira afirmou que cada alta temporada redefine o novo baseline para o ano seguinte. Mesmo que novos hábitos de consumo puxados pelas promoções mensais dos varejistas asiáticos tenham ganhado força, o CEO da Supply Chain disse que, do ponto de vista numérico, essa diluição ainda não diminuiu a intensidade do pico concentrado na Black Friday e no Natal. Para a logística, por outro lado, ter picos distribuídos é logisticamente mais eficiente do que ter toda a demanda concentrada em uma única data.
O avanço do live commerce e do social commerce em redes e plataformas como TikTok Shop, Shopee e YouTube aceleraram ainda mais essas mudanças, reforçou: quando um produto é apresentado ao vivo por um influenciador, a demanda explode naquele instante, exigindo que a logística seja extremamente eficiente.
Portanto, para atender a essa demanda, a companhia aposta em soluções como a rede DFN (Domestic Fulfillment Network), que permite às marcas armazenar estoques próximos do consumidor e realizar entregas rápidas ou mesmo no sistema PUDO (do inglês pick up and drop off, algo como pegar e deixar um item.). “Facilitar a vida do consumidor para garantir conveniência é o grande diferencial competitivo”, destacou Pereira, lembrando que, nesse contexto, a DHL tem expandido sua atuação em toda a cadeia, do abastecimento das fábricas até a entrega final ao consumidor. “Ele não aceita mais esperar uma semana. Quer o produto no dia seguinte, ou no mesmo dia. Isso muda completamente a lógica da operação logística.”
Tecnologia e volatilidade do mercado
A chegada maciça de empresas asiáticas, especialmente chinesas, nos últimos anos, tem demandado uma reestruturação logística significativa, disse Plinio Pereira, da Supply Chain, pois a filosofia dessas empresas é de crescimento acelerado. "Para escalar negócios da estaca zero para milhões de pacotes rapidamente, tecnologia e automação têm papel fundamental."
Entre as soluções, explicou, estão sistemas de planejamento, dimensionamento e posição de estoques, automação dentro dos armazéns utilizando sorters (sistemas automatizados de separação e classificação de produtos em grandes volumes), pick to light (sistema de automação de armazéns que usa luzes LED e displays para guiar operadores na coleta de produtos) e também o uso de robôs e inteligência artificial (IA) para executar atividades repetitivas, como o agendamento de entrega.
Esses chatbots interagem com o destinatário, verificando a disponibilidade de agendas, alterando datas e consolidando entregas, tudo de forma transparente para o usuário, explicou. "Assim, ajudamos os clientes a escalar e se adaptar não só à cultura, mas ao complexo conjunto de normas regulatórias que existem no Brasil e no mundo", disse.
No cenário global, Eric Brenner, da Global Forwarding, observou mudanças estruturais nos fluxos comerciais: o volume de cargas da Ásia para o Brasil aumentou cerca de 12%, enquanto o volume da Ásia para os Estados Unidos diminuiu 8%. Já as cargas entre países intra-América Latina aumentaram 5% - o que já dá algumas indicações de mudanças, afirmou.
A migração de rotas, que pode indicar um efeito de nearshoring (transferência de operações comerciais para países próximos) ou ajuste de demanda, exige da logística internacional previsão antecipada e um planejamento rigoroso para assegurar acordos com armadores e linhas aéreas, reforça. "E também orientar exportadores e importadores no Brasil sobre as rotas mais resilientes, as mais efetivas e como podemos ajudar para que essas cargas, durante diversos picos, não sofram atrasos."
Pequenas empresas
Nesse cenário, as pequenas e médias empresas, que já representam 60% dos negócios da base de clientes da DHL, também precisam se preparar para a nova dinâmica, pois não são problemas diferentes dos enfrentados pelas grandes, destacou Mirelle Griesius, da Express. Entre elas estão revisão e diversificação da operação, repensando suas rotas. "Se não conseguiram mais enviar produtos a um determinado destino, precisam diversificar e buscar novas oportunidades de negócio em outros países."
A CEO chamou atenção para a volatilidade e imprevisibilidade do cenário global, que exigem planejamento constante. “Nos preparamos para um aumento de 11% a 15% no volume de entregas entre novembro e dezembro, mas o comportamento de compra pode mudar rapidamente. Por isso temos planos de contingência e reforço de turnos extras nos meses críticos."
Daí a importância de os pequenos negócios repensarem sua própria operação como um todo, segundo Mirelle e, em alguns casos, até mudarem o local de sua manufatura (produção). Sem contar as mudanças regulatórias que podem afetar as operações com outros países - como a eliminação do de minimis nos Estados Unidos (o que fez com que remessas abaixo de US$ 800 fossem tarifadas) e exigiram que empresas que só enviavam para o mercado americano buscassem alternativas.
Em sua avaliação, as PMEs precisam começar a olhar para o custo e a eficiência, e algumas empresas menores já estão se adaptando a novas tecnologias digitais por perceberem a necessidade do consumidor, que está utilizando cada vez mais ferramentas digitais, afirmou. Ela citou a parceria da DHL com o Sebrae para apoiar empreendedores a exportar produtos com consultoria gratuita e capacitação logística por três meses. Hoje, o total de pequenos exportadores é de apenas 1%.
“Isso inclui ajudar as PMEs a entenderem quais são as licenças necessárias, o tipo de documentação, embalagem e rótulo e, crucialmente, identificar em qual país seu produto será mais bem aceito (afinidade) para ajudá-las a diversificar", afirmou. "Com essa adaptação e a busca por diversificação, dá para transformar a atual dificuldade geopolítica em oportunidades."
Fonte: Diário do Comércio