Descolamento entre oferta e demanda gera desabastecimento temporário na cadeia industrial do país
O desabastecimento de alguns insumos industriais, como aço e PVC pode ser resolvido até o final do ano. Já em papelão ondulado, usado muito em embalagens, houve atrasos nas entregas e deverá ser resolvido no início de 2021.
No caso do aço, por exemplo, segundo Carlos Loureiro, do Instituto Nacional de Distribuidores de Aço (Inda), esse descolamento da oferta e da demanda ocorreu pela recuperação em “V” de alguns setores consumidores e o tempo mais longo para a retomada da produção das usinas.
“Além da demanda normal, muitos clientes estão recompondo os seus estoques. Esse desabastecimento é provisório, em dois meses deverá ser regularizado. A retomada da demanda não é na mesma velocidade da oferta.”
Em abril, 13 altos-fornos foram desligados para adequar a produção à demanda. Com isso, a utilização da capacidade instalada das usinas chegou a cerca de 42%. Agora, dos 13 equipamentos desligados, quatro voltaram a operar entre junho e julho e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) também deve religar o alto-forno 2 que teve a operação parada em maio.
A rápida retomada das compras fez com que as estimativas de queda de vendas de aço no país saísse de 20%, em abril, para 12% em julho. Segundo o Instituto Aço Brasil, essa estimativa deverá ser revista novamente para baixo.
Bruno Bassi, gerente executivo e corporativo do Grupo Açotubo, um dos maiores distribuidores de aço do país, disse ao Valor que, a partir de julho, o mercado voltou mais forte em alguns setores, como o de máquinas agrícolas, e em um momento em que as usinas estavam iniciando a retomada de produção.
“É natural que isso não ocorra tão rápido, por isso a figura do distribuidor é que ele abasteça o mercado em momentos como este. Ficou um hiato por um período de um mês, mais ou menos”, disse Bassi. Segundo ele, o mercado não esta efetivamente desabastecido e haverá uma acomodação no curto prazo.
O grupo vende aços longos, que são barras maciças e tubos com e sem costura, conexões e aço inoxidável. Seus principais fornecedores são a Gerdau, a Vallourec, a Tenaris - antiga Confab - e a Aperam. A companhia também opera centros de serviço, trefilação e ancoragem em geral para sustentação de edifícios.
Bassi afirmou que o grupo teve que se adequar à nova demanda logo no período crítico da pandemia, com as vendas em queda e a produção das usinas paradas. Com isso, a solução encontrada foi consumir os estoques, porém, de acordo com ele, de maneira “conservadora”. “Como todo mundo fez, também reduzimos o volume de estoque, mas deixamos colchão para o momento de retomada da usina, pois as entregas são menores.”
Segundo ele, a companhia deixou um estoque de segurança para o momento de retomada das vendas. “Não fomos tão financistas. Fomos mais conservadores nesse ponto. A capacidade das usinas está menor e agora o abastecimento é um pouco mais lento, mas nada que esteja impactando o nosso negócio. Acredito que no decorrer de outubro essa situação se regulariza.”
No caso de plásticos, o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz Coelho, disse que a reorganização entre demanda e oferta irá ocorrer até o início de 2021. Segundo ele, ocorreu um descolamento nas cadeias produtivas com a pandemia e muitas empresas deixaram de abastecer nos ciclos normais de suprimentos. “No retorno, houve problemas logísticos com alocação de material e essa normalização só deve ocorrer no início do próximo ano”, afirmou.
Segundo Roriz, 60% da produção já está regularizada se comparada há dois meses. Entretanto, ele afirmou que, com o fim do auxílio emergencial em janeiro, poderá haver queda na demanda, principalmente do varejo da construção civil, um dos grandes mercados para os produtos de PVC. Isso poderá representar redução da folha de pagamentos em algumas empresas, disse.
Já o mercado de papelão ondulado está aquecido para diversos segmentos. O setor deve continuar assim até o fim do ano. Segundo a Associação Brasileira de Papelão Ondulado (ABPO), em função dessa demanda maior as remessas estão com prazos mais estendidos.
“A embalagem de papelão ondulado é realizada por encomenda, portanto, não há estoque. A grande parte da indústria, que a ABPO representa, opera com prazos entre 7 e 30 dias. No cenário atual estendeu para até 60 dias.”
Pelos números da ABPO, o primeiro trimestre de 2020 acumulou crescimento de 7,5% em relação ao mesmo período de 2019. No entanto, o segundo trimestre deste ano registrou recuo de 3,2%, com acentuada queda em maio de 12,5%. A retomada do crescimento iniciou em meados de junho e em agosto de 2020 a expedição de caixas, acessórios e chapas de papelão ondulado foi de 346.033 toneladas, alta de 8,1 % em relação a agosto de 2019.
Fonte: (Valor Econômico)
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