30/03/2023

Operadores logísticos substituem combustível para conter emissões



Num cenário em que a redução das emissões de gases de efeito estufa é uma demanda crescente do mercado e da sociedade, operadores logísticos estão engajados em uma série de iniciativas para incorporar às suas operações boas práticas de governança ambiental, social e corporativa (ESG, na sigla em inglês). A reformulação de rotas para diminuir percursos, o compartilhamento da carga e a substituição de combustíveis fósseis estão entre as prioridades para reduzir o impacto ambiental.


“A diversidade na matriz energética da indústria automobilística é cada vez mais estratégica para que o transporte rodoviário de carga tenha mais opções de caminhões com diferentes fontes, sem comprometer a segurança e a eficiência da operação”, afirma Marcella Cunha, diretora-executiva da Associação Brasileira de Operadores Logísticos (Abol).


Os operadores preveem que, nos próximos quatro a cinco anos, vão eletrificar 100% da frota leve, adotar caminhões movidos a gás natural veicular (GNV) e ampliar o número de armazéns e galpões com placas fotovoltaicas.


Mudanças regulatórias como o Padrão Euro 5 e o Euro 6 aceleraram a aderência aos princípios ESG. O Padrão Euro 5 é um conjunto de normas para diminuir poluentes de veículos movidos a diesel e adaptado ao Brasil por meio do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve P7). Iniciado em 2012, fez com que caminhões a diesel reduzissem o óxido de nitrogênio a partir de um processo de recirculação dos gases. “Com isso, o diesel tipo S50 foi substituído pelo S10, com uma redução de até 90% na emissão de enxofre com menos depósitos no motor”, explica Marcella.


A próxima etapa é o sistema Euro 6, também conhecido como a oitava fase do projeto, ou Proconve P8, que entrou em vigor neste ano e prevê modificações nos motores automotivos, incluindo o tratamento dos gases de escapamento. O fabricante ou importador precisa comprovar o atendimento aos limites máximos de emissão de poluentes pelos intervalos de rodagem e de tempo de no mínimo 300 mil quilômetros. A adaptação deve se dar em seis anos para veículos de carga entre 3,8 toneladas e 16 toneladas e 700 mil quilômetros e em sete anos para veículos de carga acima de 16 toneladas.


Dos cerca de três mil veículos da transportadora Rodonaves, 90% usam combustível GNV e gás natural liquefeito (GNL), com planos de migrar para veículos elétricos. Dos 170 caminhões que serão adquiridos neste ano, cinco serão elétricos e 20 terão padrão Euro 6. “Até 2030 a meta é renovar 80% da frota própria de veículos pesados, de acordo com as exigências que forem surgindo ao longo dos próximos anos”, diz Vera Naves, vice-presidente do grupo Rodonaves.


Segundo Pedro Moreira, presidente da Associação Brasileira de Logística (Abralog), para acelerar a migração para novas fontes energéticas, é necessário preparar a infraestrutura que comporte o abastecimento de veículos elétricos com uma rede mais desenvolvida de recargas de baterias, além de mais postos com opção de GNV. “Neste período de transição a alternativa é o uso do gás natural veicular, biogás e biometano”, diz Moreira.


A Dow, fabricante de produtos químicos, plásticos e agropecuários, comprometeu-se a reduzir as emissões líquidas anuais de carbono em 5 milhões de toneladas métricas, comparado a 2020, com diminuição de 15% até 2030 e com a meta de chegar a 2050 neutra em carbono. “Para reduzir emissões de gases de efeito estufa, investimos na otimização das rotas e do consumo de combustíveis, priorizamos energia mais limpa para o transporte de materiais e selecionamos fornecedores que compartilham essas iniciativas de redução do impacto ambiental”, afirma Ronaldo Gewehr, diretor de logística para a Dow na América Latina.


A companhia move em torno de 1 milhão de toneladas de produtos todos os anos. Cerca de 78% desse volume é movimentado por modal rodoviário e os outros 22% são transportados pelo modal marítimo. “Estamos trabalhando com transportadoras rodoviárias para aumentar a capacidade de caminhões para entregas locais, reduzindo o número de veículos em trânsito, e aumentamos em 10% a carga de caminhões-tanque para produtos de poliuretanos, diminuindo o número total de viagens necessárias em um ano para atender a mesma demanda do produto”, explica Gewehr.


Em 2022, a Dow fez uma parceria com a Ambipar – multinacional brasileira de gestão ambiental e fornecedora de serviços logísticos por meio da Ambipar Logistics – para integrar o projeto Corredor Sustentável. A iniciativa prevê a mudança da matriz energética de sua frota de caminhões para fontes mais limpas com a inclusão, em larga escala, de veículos movidos a gás natural comprimido (GNC).


“A parceria prevê inserir novos veículos ano a ano, considerando a dinâmica do mercado e os custos de aquisição, para ter até 2040 100% da frota composta por veículos com combustíveis renováveis”, ressalta Gewehr. Em uma primeira etapa são usados dez caminhões movidos a GNC no transporte entre a Dow e seus clientes em Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. “O projeto no transporte de produtos químicos tem potencial de redução de 1.150 toneladas de CO2 equivalente por ano e estudamos também a inserção de veículos elétricos para rotas de curta distância”, diz o executivo.


O processo de substituição da frota logística não é rápido e depende do engajamento dos fornecedores. “Além de investimentos em infraestrutura para os veículos elétricos na diversificação de modais de transporte, é necessário fazer uma transição para combustíveis alternativos que sejam competitivos financeiramente, como o gás natural e o biometano”, diz o diretor da Dow.


Além dos transportes, a construção de galpões alinhados aos princípios ESG é outra prioridade da cadeia logística. O Prologis Cajamar II, com área construída total de aproximadamente 280 mil metros quadrados em um terreno de cerca de 742 mil metros quadrados, é um exemplo. Trata-se de uma joint venture entre a Prologis e a Ivanhoe Cambridge em Cajamar, na Grande São Paulo, que recebeu o selo internacional LEED (Leadership in Energy and Environment Design) Zero Energy.


“Entre os parques da empresa no mundo, o Brasil é pioneiro na conquista dessa certificação”, afirma Armando Fregoso, diretor- geral da Prologis. A preparação para receber o selo envolveu a instalação de medidores individuais de água e energia nas unidades, a pintura de telhados e tetos das áreas comuns com tinta branca fria e o treinamento da equipe na operação da manutenção sustentável.


A certificação LEED Zero Energy atesta o desempenho energético da unidade, verificando se as reformas buscaram o equilíbrio entre o consumo e a geração de energia por fontes renováveis nas edificações. Além disso, confirma que toda a emissão de gases de efeito estufa da energia consumida foi devidamente compensada. “O certificado é conferido aos empreendimentos com pelo menos um ano de operação, monitorados de forma contínua e com seu balanço energético anual zerado”, diz Fregoso. São analisados critérios como tempo de operação, taxa de ocupação mínima, metragem mínima das áreas construídas, tipologia, atendimento a legislações, eficiência energética mínima para geração on-site e off-site, geração de energia renovável, compra de créditos de energia renovável, uso de energia não renovável e balanço energético anual do empreendimento.


Outra preocupação é com a destinação de resíduos. No grupo Rodonaves, os resíduos gerados nos processos, como lubrificantes, filtros, estopas e panos utilizados em manutenção, peças automotivas, plástico e papelão, são recolhidos por empresas especializadas para a destinação adequada. “Na matriz, em Ribeirão Preto (SP), e na unidade da Vila Jaguara, a água utilizada na lavagem dos caminhões é tratada e passa por um processo de reutilização, captada da água da chuva, enviada para uma caixa de armazenamento ou o reaproveitamento com aproximadamente 70% do volume”, afirma Vera Naves. Outra iniciativa é a substituição das matrizes de energia das unidades próprias por fontes renováveis até 2024.


Fonte: Valor Econômico



Notícias Relacionadas
 Veículos autônomos devem movimentar US$ 45 bilhões no transporte de cargas até 2034

18/07/2025

Veículos autônomos devem movimentar US$ 45 bilhões no transporte de cargas até 2034

O uso de veículos autônomos no transporte de cargas deve ganhar escala nos próximos anos. Segundo a consultoria Precedence Research, o mercado global de entregas autônomas na etapa last (...)

Leia mais
 BBM aposta em ganhos de agregados para avançar crescimento, reduzindo custos

16/07/2025

BBM aposta em ganhos de agregados para avançar crescimento, reduzindo custos

A BBM Logística, um dos maiores operadores logísticos do Brasil, decidiu apostar na expansão do número de motoristas agregados, com aumento incentivado de seus ganhos, para ampliar prese (...)

Leia mais
 Entidade aciona Justiça para tirar privilégio dos Correios no governo Lula

15/07/2025

Entidade aciona Justiça para tirar privilégio dos Correios no governo Lula

A Associação Brasileira de Operadores Logísticos (Abol) acionou a Justiça recentemente pedindo a suspensão de um decreto do presidente Lula, de 2024, que dá “preferência” à contratação d (...)

Leia mais

© 2025 ABOL - Associação Brasileira de Operadores Logísticos. CNPJ 17.298.060/0001-35

Desenvolvido por: KBR TEC

|

Comunicação: Conteúdo Empresarial

Este site usa cookies e dados pessoais de acordo com os nossos Termos de Uso e Política de Privacidade e, ao continuar navegando neste site, você declara estar ciente dessas condições.