Paulo Roberto Guedes - conselheiro consultivo da ABOL
Não bastassem os problemas mundiais dos últimos anos, incluindo-se a pandemia, a crise climática, a rápida deterioração do meio-ambiente, os conflitos militares na Ucrânia e no Oriente Médio, e outros que “se armam” (Taiwan e China, Coréia do Norte, Canal de Suez etc.), está claro que atualmente o mundo vive um de seus piores momentos. Contesta-se, até mesmo, os valores democráticos e a própria Democracia.
Isto me faz acreditar que os maiores riscos para toda a sociedade mundial, para este e os próximos anos, terão origem nos aspectos geopolíticos. Inevitavelmente, de forma negativa, o comércio mundial será afetado e as cadeias de suprimentos e/ou distribuição terão seus funcionamentos prejudicados. Ponto de atenção para todos e em especial para os profissionais de logística.
O Brasil, sem dúvida, sofrerá os impactos que lhe correspondem e ainda terá que lidar com seus próprios problemas, inclusive o fato de que neste ano haverá eleições.
Entretanto, e apesar de tudo, o País já se apresenta como um lugar confiável e de oportunidades. A estabilidade política e a independência dos poderes estabelecidos, a manutenção do Estado Democrático de Direito, a própria independência do Banco Central, as reformas da Previdência e Tributária, políticas claras de combate ao desmatamento e de proteção ao meio-ambiente, a melhoria de desempenho de alguns dos principais índices econômicos (crescimento do PIB, aumento do consumo, controle da inflação e queda de juros), e ambiente de maior previsibilidade, incluindo-se aqui, os programas para retomada do desenvolvimento do setor industrial e outros que buscam manter os demais setores da economia em evolução e crescimento, são fatos que ajudam ainda mais a imagem do Brasil.
A se considerar, inclusive, os investimentos previstos no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) que, além de tudo, contempla cinco rotas específicas para melhoria do processo de integração regional latino-americano: a) Rota da Ilha das Guianas (Amapá, Roraima, Pará); b) Rota Multimodal Manta-Manaus (Roraima, Pará, Amapá); c) Rota Quadrante Rondon (Acre, Rondônia, Mato Grosso); d) Rota Capricórnio (Corredor Bioceânico de Capricórnio); e) Rota Porto Alegre-Coquimbo (Rio Grande do Sul).
Vale ressaltar que o Corredor Bioceânico de Capricórnio, que possibilita a realização do transporte internacional entre a América do Sul e os países da Ásia via Oceano Pacífico, evita que se utilizem os trajetos via sul da África ou Canal do Panamá. Lembrete: 50% das exportações brasileiras já são direcionadas para a Ásia, em especial a China.
Sem dúvida, providências que deverão aumentar a abrangência e melhorar o funcionamento e o processo de integração do Mercosul, possibilitando que regiões, razoavelmente isoladas do comércio internacional, sejam incorporadas ao mercado. Vale lembrar, aumentando o protagonismo brasileiro junto aos países latino-americanos.
Especificamente com relação ao meio-ambiente e à sustentabilidade, é importante ressaltar que o Brasil, talvez um dos poucos do mundo, além de produzir energia renovável em quantidades maiores do que sua necessidade, ainda poderá, segundo os especialistas, ter um adicional equivalente a duas ou três vezes aquilo que exige o consumo interno atual, assim que forem concretizados os projetos eólicos e solares em andamento. O País poderá, sem dúvida, bem antes do ano 2050, alcançar a meta estabelecida pelo Acordo de Paris, de “zerar” suas emissões de CO².
Não à toa o Brasil, que já retomou sua posição entre as dez maiores economias do mundo, melhorou suas classificações de crédito junto à S&P e Fitch, e é o quinto maior recebedor de investimentos estrangeiros diretos, ficando atrás, segundo dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento – UNCTAD), somente dos Estados Unidos, China, Singapura e Hong Kong. Não é pouco.
Mais particularmente, quando se discutem assuntos relativos à logística, além de se constatar a necessidade de maiores investimento, seja para a expansão ou a melhoria da infraestrutura ou para fazer frente aos problemas climáticos, outro assunto relevante, mas sem ‘modismos’, é quanto ao uso de tecnologias envolvendo inteligência artificial. Veículos autônomos, veículos elétricos com maior eficiência e autonomia, robôs de entregas ou que realizam a transferência automática de cargas para outros veículos, linhas de produção ou armazéns, inclusão de diversos tipos de sensores, tanto para a captação de dados operacionais em tempo real como para maior e mais rápida identificação de problemas operacionais que se apresentam, bem como a consequente ativação de providências pertinentes, são apenas alguns exemplos. A complexidade da logística, de fato, aumentou.
Mas essa complexidade não se limita aos problemas tecnológicos ou relacionados à movimentação de mercadorias propriamente dita (otimização de cargas e/ou equipamentos, identificação de possíveis sinergias etc.), mas também aos problemas derivados da falta de visibilidade e de informações mais fidedignas e em tempo real, bem como de sistemas de comunicação que permitam uma administração em tempo real. Se antes o objetivo era apenas obter a localização das mercadorias em movimento (rastreabilidade exigida pelos consumidores ou pelas seguradoras), agora, além de se buscar dados e informações em uma quantidade muito maior de fontes, é preciso incorporar, também de forma rápida e ágil, muito mais conhecimento, único meio para que se consiga maior visibilidade e controle das operações e dos negócios.
É fato que a tomada de decisões, operacionais e estratégicas, somente se dará da forma rápida, correta e mais bem adaptada ao momento e às exigências e necessidades dos “stackholders”, quando for possível melhorar os níveis de conhecimento, caminho para que se aumente a compreensão deste mundo cheio de incertezas. É o jeito de se construir cenários futuros mais realistas e possíveis.