Novas opções de fornecimento a partir da Ásia e da Europa amenizaram as altas recordes dos preços do diesel importado por países da América Latina nos primeiros meses de 2022. A análise é do relatório da S&P Global Commodity Insights, que concluiu em seus levantamentos que os mercados de diesel latino-americanos relaxam à medida em que há flexibilização nos mercados de produtos refinados, com opções além da Costa do Golfo dos Estados Unidos (USGC). Os insights indicaram que os preços do transporte de produtos refinados para a América Latina devem apresentar queda à medida que essa flexibilização for ampliada.
Os preços do diesel na América Latina permanecem historicamente mais altos do que em qualquer outro momento antes da invasão russa em território ucraniano. As taxas de frete, porém, apresentaram redução pela metade em relação aos preços recordes estabelecidos em abril.
Brasil e Argentina são atualmente os maiores mercados fora do México. O relatório apontou que o mercado brasileiro foi classificado como ‘bem abastecido’ em maio, após um abril sob estresse. Já o mercado argentino vivenciou um período com dificuldades de abastecimento porque os preços locais estavam mais baixos do que os preços de importação. Segundo o levantamento, um grupo comercial relatou que as estações de serviço chegaram a racionar diesel em determinado momento.
Uma fonte latino-americana relatou à S&P que a Argentina pode estar pagando valores mais altos para obter barris de produtos prontos. De acordo com o relatório, ela projetou que o Brasil se beneficiará com a recente mudança na fórmula de preços da Petrobras que eleva os preços da produção doméstica para níveis de paridade de importação, diferente da Argentina, o que deve gerar fluxos crescentes para o Brasil.
Traders ouvidos pela consultoria ressaltaram que o Brasil está comprando mais cargas do que o normal do leste, em vez da costa do golfo dos Estados Unidos (USGC). Um trader latino, citado no relatório, disse que o diesel AG (agricultural diesel) indo para o Brasil está pressionando um pouco o frete FOB (free on board) USGC.
A S&P Global contabilizou 17 cargas a caminho do Brasil, incluindo navios do golfo norte-americano a poucos dias dos portos brasileiros. O software de rastreamento de navios e mercadorias ‘Platts cFlow’ registrou, porém, apenas um navio que partiu na primeira semana de maio. A lista de navios de outros lugares incluía ‘Janine K’ de Gibraltar, embora provavelmente transportando nafta, ‘Zefyros’, de Angola, e ‘Silver Etrema’ e ‘Stolt Calluna’ do leste da Ásia.
O navio-tanque ‘BW Hawk’ também está fora de Amsterdã com Brasil e Equador como opções, provavelmente carregando diesel com baixo teor de enxofre (ultra low sulfur diesel — ULSD), segundo fontes do mercado. A embarcação ‘Hafnia Nordica’ (foto), de Gibraltar, acabou de desembarcar combustível de aviação no Caribe. A Argentina mostra apenas três navios em rota, mas um deles, o ‘Fairchem Blade’, provavelmente está carregando gasolina de Cingapura.
As instalações dos navios ouvidas pela Platts mostram outras cargas fixadas para as próximas viagens na América Latina, incluindo ‘Arctos’ carregando ULSD no dia 16 de maio de Sikka, na Índia, para o Brasil pela Reliance; ‘Omodos’, carregando ULSD no último dia 12 de maio de Gibraltar para o Brasil pela Admic; ‘GWN2’, carregando gasolina sem chumbo no próximo dia 20 de maio da ARA (Amsterdã-Roterdã-Antuérpia) para o leste do México para o PMI; e ‘Sandpiper Pacific’, carregando sem chumbo em data indeterminada da ARA para a Argentina para a ExxonMobil. Duas cargas de diesel da Sikka, ‘Silver Valerie’ para Reliance e ‘Eco Marina Del Rey’ para Vitol, tinham diesel como cargas, com opções da Argentina.
Diesel ULSD russo
Participantes do mercado europeu citaram no levantamento a América Latina como uma saída potencial para cargas ULSD russas, à medida que aumenta a pressão sobre os líderes europeus para sancionar totalmente a importação de moléculas russas para o continente antes do final do ano. O entendimento é que as sanções provisórias da União Europeia (UE) sobre o fornecimento de petróleo de origem russa produzido por certas entidades, com destaque para as gigantes russas Rosneft (petroleira) e Gazpromneft (refino), para fora da UE, no entanto, fornecem algumas barreiras para um maior fluxo potencial Rússia-América Latina.
No entanto, traders europeus continuam comentando que a arbitragem para enviar barris europeus do hub ARA para fortes centros de preços na América Latina era viável, apesar da oferta da Europa estar apertada. Um quarto trader latino disse que os fluxos certamente estão indo da Europa para a América Latina novamente.
Fonte: Portos e Navios