Se existem dúvidas quanto aos efeitos da decisão do governo federal de reduzir ou até zerar a alíquota do Imposto de Importação de vários produtos sobre a inflação, o mesmo não ocorre para os negócios dos operadores logísticos que oferecem infraestrutura aos importadores. Logo após a divulgação da mudança e da lista de produtos beneficiados, ainda na quarta-feira (11), as consultas aos operadores logísticos já começaram.
A lista do governo vai de produtos de consumo, como carnes de boi e frango, biscoitos, farinha de trigo e milho em grão, a vários insumos da indústria em geral, como ácido sulfúrico e, talvez o item mais polêmico, alguns tipos de aço. A medida vale até 31 de dezembro deste ano e prevê renúncia fiscal de R$ 700 milhões.
Na Localfrio, que oferece serviços de alfandega, armazenagem e transporte de mercadorias, por exemplo, as consultas começaram já no dia seguinte ao anúncio das medidas. A empresa tem operações para atender os portos de Santos, Suape e Itajaí.
Segundo o presidente da companhia, Rodrigo Casado, clientes do setor de alimentos foram os que reagiram mais rapidamente à proposta de mudança tributária.
Sem citar nomes, Casado conta que no porto de Santos há consulta de um cliente que planeja dobrar o volume de farinha trazida do exterior. Outro, que atua no segmento de carnes, prevê elevar em 30% a 40% o movimento de contêineres pelo porto paulista.
Nos portos de Itajaí e Suape, os negócios da empresa estão mais voltados à importação de ligas metálicas. E nesse caso as negociações estão mais embrionárias. Como parte dessas ligas tem como origem a China, os clientes estão esperando uma definição das medidas de restrição adotadas pelo país no combate à pandemia de covid-19 para saber quando e em quanto poderão ampliar as importações.
A diretora executiva da Associação Brasileira de Operadores Logísticos (Abol), Marcella Cunha, avalia que a medida do governo tem um efeito indireto sobre o setor na medida que seus clientes são beneficiados. Segundo os últimos dados oficiais da Abol, de 2020, o setor é formado por 275 empresas com receita operacional bruta de R$ 100,8 bilhões anuais. Entre empregos diretos e indiretos, a associação estima que são 1,5 milhão de postos de trabalho. Os números referentes a 2021 serão divulgados no início de junho.
Mas a dirigente pondera que, apesar dos efeitos positivos que a proposta do governo possa ter para o setor, as empresas também começaram a semana com uma péssima notícia: o novo reajuste de 8,87% no diesel. Junto com a guerra na Ucrânia e o “lockdown” na China, a alta do combustível acentua um cenário de incertezas que vem desde o início da pandemia em 2020 e não dá sinais de melhora neste ano.
“O custo com combustível, em particular o óleo diesel, para muitas empresas dos setores de transporte e logística, apresenta impacto de 35% a 40% no valor do frete. Em rotas mais longas, o diesel pode representar até 60% do custo do frete”, afirma a presidente da Abol. A expectativa agora é se a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) vai reajustar o piso mínimo do frete rodoviário.
Fonte: Valor Econômico