Entre os obstáculos da indústria brasileira, a logística sempre é apontada como um dos principais custos. De acordo com a pesquisa "Desafios à Competitividade das Exportações Brasileiras", divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em novembro de 2022, o custo do transporte internacional e o custo do transporte doméstico estão entre os principais desafios enfrentados.
Por 40 anos, o grupo Gemü, fornecedor de válvulas e sistemas de medição e controle, usou quase exclusivamente o transporte aéreo no Brasil. Porém, com o aumento do preço das tarifas, somado a custos mais altos de combustível e outras pressões da inflação ao longo dos últimos anos, a decisão foi diversificar o modal para incorporar o marítimo.
Com isso, a multinacional alemã com fábrica em São José dos Pinhais (PR), alcançou redução de 23% em seu custo de transporte internacional para o Brasil. Segundo a gerente de supply chain, Uréo Pereira, foi necessário um estudo de todos os itens de giro contínuo que poderiam ser trazidos da Europa por via marítima, para que a companhia otimize o estoque.
"Para isso, usamos tecnologia para rastrear nossos estoques e entender exatamente as quantidades de consumo padrão, para programar no longo prazo. Dessa forma, tornou-se possível trazer as peças da matriz necessárias para serem adaptadas no Brasil às necessidades dos clientes locais", destacou.
Para o presidente da Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem (Abac), Luiz Fernando Resano, a melhor forma de economizar está na escolha do modal. Segundo Resano, é inegável a economia que o transporte marítimo oferece em comparação ao rodoviário, ferroviário e aeroviário, visto que os navios possuem alta capacidade de transporte frente a outros modais.
"O [modal] marítimo surge como uma opção na cabotagem, pois o usuário pode escolher o modal de acordo com as suas necessidades e com um bom planejamento logístico, ele se beneficia diretamente pelo menor custo", comentou Resano.
Segundo a agência da Organização das Nações Unidas (ONU), a média de evolução estimada para o comércio marítimo, em 2023, é de 2,1% e a tendência é que se mantenha até 2027. Para Resano, o setor de máquinas e equipamentos normalmente demanda um transporte com grandes dimensões, principalmente porque trabalha com o recebimento de peças e o envio de produtos para todo o país em rotinas apertadas. Dessa forma, o marítimo se destaca disponibilizando, por exemplo, navio heavy lift ou de cargas especiais.
Para Uréo, do grupo Gemü, o modal marítimo exige um trabalho sincronizado que envolve times internos de fornecedores e de clientes. “Sempre tivemos o estoque otimizado, mas com o recebimento por via marítima, ele precisou ser incrementado considerando o aumento de prazo logístico e muito bem ajustado às demandas de nossos clientes”, explicou.
Com a mudança do modal, a companhia também alcançou 76% de redução no custo de frete internacional de uma das matérias-primas para a válvula diafragma (o item lençol de borracha). “Por se tratar de um material que requer controle de temperatura para não endurecer no transporte, ele era importado via aérea. Com a opção do contêiner refrigerado em navio, pudemos alcançar essa redução, o que nos exigiu apenas a readequação dos níveis de estoque e programação antecipada da logística para garantir a disponibilidade do equipamento”, afirmou a gerente.
Fonte: Portos e Navios