O cenário logístico do setor marítimo vem dando sinais de recuperação em 2022, ao ser comparado com o que foi observado no início do ano passado, quando os exportadores brasileiros enfrentaram uma baixa disponibilidade de contêineres e de espaços nos navios para atender às suas exportações, além da disparada dos preços do frete, conforme avaliou, à Portos e Navios, o diretor executivo da Associação Brasileira dos Terminais Retroportuários e das Transportadoras de Contêineres (ABTTC), Wagner Rodrigo Cruz de Souza.
Mesmo assim, segundo ele, não é possível afirmar que o mercado de contêineres já esteja dentro da normalidade, em relação ao período pré-pandemia. “Temos observado problemas pontuais quanto à indisponibilidade de mais espaços nos navios, um cenário que continua impactando a rolagem de cargas, além do reduzido tempo para a disponibilização de unidades vazias e do reduzido tempo para a abertura de janelas nos operadores portuários, o que prejudica diretamente as empresas exportadoras brasileiras”, analisou Souza.
Ao avaliar o momento, Leandro Carelli Barreto, sócio da Solve Shipping, indicou uma forte queda de preços dos fretes em setembro, o que considera bastante incomum, pois, historicamente, é um mês de alta nos fretes spot. “Vimos aqui, no Brasil, algumas rotas com o frete caindo até 30%. Mas acredito que esse cenário não seja necessariamente bom, por ser um sinal de que o arrefecimento da demanda global tem sido muito mais forte do que o esperado, e isso pode sinalizar para uma recessão global à vista”, alertou o executivo.
O diretor executivo da ABTTC também destacou informações sobre queda de até 60% do frete para algumas rotas específicas. “Isso já vem refletindo no afrouxamento dos gargalos logísticos enfrentados pelo setor, em 2021/2022, com o fechamento e atraso de escalas nos portos. Embora tenhamos notícias dessa redução, os valores ainda estão acima dos níveis pré-pandemia, mas temos uma grande expectativa de que os valores do frete marítimo reduzam ainda mais, no restante deste ano e em 2023”, disse Souza.
O sócio da Solve reforçou que os fretes vêm mostrando tendência de queda e que vão cair mais. “O principal indicador mundial de frete spot – o ‘Shanghai Export Container Index’ – indicou, na última sexta-feira (9), que ele já estava 50% abaixo do pico, que foi atingido em janeiro de 2022”, citou Barreto, acrescentando que o frete já caiu pela metade em uma média global, sobretudo, para as principais rotas leste-oeste, como China-Estados Unidos e China-Europa.
Embora tenha notado uma queda bastante significativa, ainda em 2022, Barreto ressaltou que, como os custos dos armadores aumentou muito, por conta dos preços dos combustíveis e dos custos de afretamento de navios, que mais que triplicou, é quase improvável que os preços do frete marítimo retornem aos níveis pré-pandemia, ainda este ano.
Portos
Sobre os atrasos nos portos, o diretor executivo da ABTTC contou que, embora não haja um levantamento atualizado, a instituição tem verificado, junto aos seus associados, um elevado grau de rolagem de cargas. “Em nosso entendimento, isso tem a ver com uma menor disponibilidade de embarcações em relação à demanda de cargas a exportar”, salientou Souza.
Para Barreto, da Solve, esses atrasos, de modo geral, têm caído bastante, tanto no Brasil como no restante do mundo, sendo um importante indicador de que a demanda está arrefecendo: “Ter uma diminuição de congestionamentos em pleno ‘high season’ [alta temporada] também reforça a possibilidade, cada vez maior, de uma recessão global”.
De acordo com o consultor, a maior dificuldade atual, tanto para os armadores como para os exportadores, é conseguir entender e interpretar os sinais do mercado de forma a tentar planejar ou construir novos planos de negócios. “O cenário está extremamente volátil e isso é ruim para todo mundo, pois dificulta os planejamentos e, consequentemente, os investimentos. E você precisa de planos para poder fazer investimentos. Então, essa volatilidade talvez seja uma das maiores dificuldades para os armadores e donos de cargas”.
A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) ressaltou que está atenta ao mercado de contêineres: “Uma das ações em andamento é a audiência pública 08/2022, que trata sobre a padronização da estrutura de serviços prestados pelos terminais de contêineres, a exemplo das taxas cobradas aos usuários”, destacou a agência à reportagem. De acordo com a Antaq, após o término do período para recebimento das contribuições, o assunto será analisado e deliberado pela diretoria colegiada. “A respeito do escaneamento dos contêineres, a autarquia já decidiu o mérito sobre o assunto, conforme resolução 7321/Antaq, de 2019”, informou em comunicado.
A agência também destacou outra ação, envolvendo a criação de um grupo de trabalho para avaliar os impactos na pandemia da Covid-19 no transporte marítimo de contêineres. “Em agosto, a agência apresentou o relatório final, que mostrou as omissões de escala, a concentração de movimentação de cargas, a falta de previsibilidade da entrega da carga e o aumento dos fretes como os principais impactos observados. Por enquanto, a Antaq vai monitorar o assunto e atuar em casos específicos de denúncia, abusividade ou onde for necessária a presença da agência reguladora”, acrescentou.
Fonte: Portos e Navios