Os efeitos da política "COVID ZERO" adotada pelo governo chinês, obrigando toda a população a novamente permanecer em isolamento, terão impactos negativos ainda mais fortes supply chain internacional nas próximas semanas, principalmente se perdurar por mais tempo.
Conforme divulgado na grande imprensa nas últimas semanas, dezenas de cidades da China continental, incluindo o porto de Xangai, o maior em movimentação no mundo, foram bloqueadas por conta do avanço do coronavírus.
A ABOL tem acompanhado de perto os impactos causados pelo desbalanceamento das cadeias de abastecimento globais. No setor automobilístico, onde atuam filiadas à associação, algumas empresas têm sofrido com a falta de insumos e de componentes essenciais, resultado de atrasos nos embarques de importação e aumento expressivo do custo de fretes internacionais.
Se isso já era um problema, que ainda não estava resolvido mesmo a partir da retomada da economia após o período mais crítico da pandemia, o novo lockdown da China, e agora os conflitos entre Rússia e Ucrânia, devem agravar mais profundamente a situação da cadeia de suprimentos global. .
Não sabemos ainda se haverá novas interrupções de produção por causa da falta de insumos e componentes, mas estamos monitorando a situação enquanto os OLs ajudam seus clientes no que podem para minimizar os impactos no transporte doméstico e na distribuição interna..
Notamos nas últimas semanas uma queda tanto na quantidade de navios saindo da Ásia, casos de Blank Sailing e atrasos, quanto uma queda na utilização dos navios que saíram daqui. Como exemplo, navio de uma grande empresa do mercado chegou a sair com apenas cerca de 70% de utilização.
Em resumo, podemos dizer que o lockdown na China vem impactando nos seguintes aspectos:
▶️ Ruptura de estoque e desabastecimento: há navios parados, que não conseguem atracar ou que não conseguem desatracar. Com isso, já faltam insumos e peças que compõem os veículos no caso da indústria automobilística, em particular), o que gera uma quebra e uma ruptura no Supply Chain. E isso, por sua vez, gera desabastecimento.
▶️ Falta de material essencial e aumento de custos: o custo desses materiais escassos, quando chegam ao Brasil, chegam mais caros. Como solução, algumas empresas estão buscando novos fornecedores, fora da China. Esse movimento, contudo, não é trivial, uma vez que se trata de uma nova relação comercial, um novo contrato, um novo planejamento de fluxo logístico, feito às vezes às pressas. Essa relação pode trazer novos riscos, como avarias da mercadoria, não atendimento de prazos, entre outros. No geral, os riscos tendem a ser maiores.
▶️ Aumento do "Transit Time": aumento do transit time, ou seja, do intervalo para que uma mercadoria seja entregue ao destino após ser retirada da indústria, do armazém ou do centro de distribuição. Isso também compromete o abastecimento interno e nossas exportações.
▶️ Aumento do Frete: natural quando há quebra no Supply Chain, principalmente no "shipping" (marítimo ou aéreo), como é o caso da China. Quando cai a oferta e a movimentação, a primeira reação do armador é elevar o preço. Também há, cada dia mais, relatos de que a demanda brasileira arrefeceu e que muitos importadores estariam tentando desovar os estoques formados com câmbio e frete mais altos.
▶️ Piora na alocação de contêineres: como estão saindo menos navios - e mais vazios - e tendo em vista que a China é o principal parceiro comercial do Brasil, a situação da escassez de containers para exportação tende a piorar nas próximas semanas.
É difícil prever todos os impactos que o Brasil ainda deve sofrer com o lockdown chinês, mas, certamente, os listados acima se agravarão à medida que a restrição perdure, impactando profundamente o processo produtivo e a organização de empresas brasileiras - e do mundo todo - que dependem da relação comercial ou logística com a China. Sabemos que haverá complicações para o lado chinês também, uma vez que a medida pode afugentar empresas multinacionais que se estabeleceram aí, assim como capital e investimento estrangeiros.
Marcella Cunha - Diretora executiva da ABOL