Superintendente de distribuição e logística da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Rubens Cerqueira Freitas disse nessa segunda-feira (26) que o país precisa atrair investimentos em produção de óleo diesel S-10 e de gás liquefeito de petróleo (GLP). São combustíveis cuja produção nacional não atende a toda a demanda e requerem importação.
Segundo ele, que participa de painel no primeiro dia da Rio Oil & Gas, o país é o quarto maior consumidor de combustíveis no mundo, e um dos desafios é chegar à autossuficiência nesses derivados, especialmente num cenário de guerra. O conflito entre Rússia e Ucrânia evidenciou a dependência dos países de combustíveis importados.
A importação de diesel corresponde a aproximadamente um terço da demanda nacional, destacou Freitas. Ele observou que a ANP tem uma agenda regulatória que prevê regulamentação de itens como a importação de biodiesel para complementar a oferta nacional.
Brasil requer estoques compatíveis com seu PIB, diz superintendente
O Brasil precisa ter estoques de combustíveis de porte compatível ao de países com Produto Interno Bruto (PIB) e demanda semelhantes, disse Cerqueira Freitas. Ele destacou que a Europa possui estoques para atender à demanda de 60 dias, e que o Brasil não tem capacidade para atender em situações como a atual.
Freitas salientou que até há algum tempo a Petrobras conseguia remanejar a produção de diesel de regiões diferentes para atender a eventuais riscos regionais de desabastecimento, mas que esse caminho será mais difícil com a política de desinvestimentos da estatal.
O superintendente da ANP ponderou ainda que a formação de estoques requer cuidado. Observou, contudo, que os investimentos são necessários dados os riscos de novos episódios de desabastecimento.
Freitas afirmou que o país conseguiu passar pela crise causada pela guerra na Ucrânia, mas um bloqueio eventual de suprimento de diesel no mercado externo seria um problema grave. A falta de diesel, que é altamente demandado pelo agronegócio, por exemplo, traria prejuízos incalculáveis para a economia brasileira.
Monitoramento diário de estoques deve começar em novembro
O monitoramento diário dos estoques de combustíveis deve começar no início de novembro, disse Cerqueira Freitas. A medida ainda está em fase de ajustes e visa acompanhar o atendimento dos combustíveis, especialmente de óleo diesel, diante da demanda crescente e de uma oferta cada vez mais apertada por causa da guerra na Ucrânia.
Atualmente, o Brasil conta com uma mesa de monitoramento criada pelo governo e que reúne os principais agentes do mercado de combustíveis para tentar antecipar eventuais déficits de fornecimento. Esse monitoramento deve ter como base a fixação de uma meta de estoque mínimo de combustíveis para atendimento ao mercado com segurança.
Na avaliação de Valéria Lima, diretora de downstream do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), mais importante do que estabelecer a meta ou fazer o monitoramento diário, é saber qual será o uso que será feito dessa informação.
Isso porque, no atual contexto, a construção de novas refinarias de petróleo requer altos investimentos com prazo longo de retorno, o que se torna mais difícil diante de uma "janela curta" de transição energética, com entrada de combustíveis renováveis no mercado.
Ela destacou a chegada de biorrefinarias, para processamento de combustíveis verdes, o que requer um acompanhamento de como a oferta complementará a demanda interna. Salientou ainda que a meta de autossuficiência não se sustenta com o crescimento esperado da adoção de combustíveis verdes, sendo mais viável buscar conciliar atendimento com a oferta interna e a importação.
Fonte: Valor Econômico