Na reta final de suas gestões, o governo federal e os Estados ainda tentam tirar do papel projetos de infraestrutura, apesar das dificuldades para atrair investidores - como ficou claro na licitação do aeroporto de Congonhas, realizada na última semana. Por ora, há cinco ativos com leilão já marcado para acontecer em 2022.
A principal licitação, prevista para setembro, é a do lote de rodovias Noroeste Paulista, do governo de São Paulo, com investimentos estimados em R$ 10 bilhões. Também estão agendados para este ano outros dois projetos estaduais do setor: o Bloco 2 de rodovias do Rio Grande do Sul e um lote no Mato Grosso do Sul. Além destes, há duas Parcerias Público-Privadas (PPP) de esgoto no Ceará, que deverão ser leiloadas em setembro.
Ao todo, os cinco contratos poderão somar R$ 22 bilhões em novas obras - isto, claro, se de fato conseguirem se viabilizar, o que não tem sido tarefa fácil.
Desde o fim do ano passado, uma combinação de desafios dificultou a atração de investidores aos diversos leilões de infraestrutura. O cenário não deverá mudar até o fim de 2022. Juros mais elevados, inflação alta, incertezas políticas globais, ano eleitoral no Brasil e uma sobreoferta de projetos para um número limitado de investidores são alguns dos fatores citados por analistas.
“O grande desafio é atrair novos operadores e novos fundos de investimento. Hoje, estamos muito na mão dos incumbentes [operadores já consolidados]”, afirma Cláudio Frischtak, presidente da consultoria Inter. B. Para ele, as barreiras para a entrada de novos grupos passam por questões que não se resolverão no curto prazo, como a perda do grau de investimento do país e o discurso anti ambiental de autoridades.
Apesar do prazo curto e da dificuldade em encontrar investidores interessados, ainda há alguns outros projetos de infraestrutura que podem se juntar à lista de leilões realizados neste ano.
Para David Goldberg, sócio da consultoria Terrafirma, a desestatização do Porto de São Sebastião (SP) é um dos ativos que poderá sair a tempo e que tem gerado interesse. “É um projeto mais simples, com poucos investimentos e uma barreira de entrada baixa”, afirma. A licitação está em análise pelo Tribunal de Contas da União (TCU). O processo poderá seguir um rito acelerado, porém, esse entendimento ainda terá que ser confirmado pelo relator do caso.
Ele também vê chances de a relicitação do aeroporto de São Gonçalo do Amarante (RN) ser realizada neste ano. Para a Terrafirma, que participou da elaboração dos estudos do projeto, a expectativa de interesse também é positiva. “É um ativo que já está pronto, não tem muitos investimentos previstos”, afirma.
No setor de rodovias, o Ministério de Infraestrutura tem planos de fazer o leilão de mais três concessões no quarto trimestre de 2022 - apenas a assinatura dos contratos ficaria para o próximo ano. A primeira é o projeto da BR-381, em Minas Gerais, que originalmente incorporava a BR-262 e foi reformulado para reduzir a complexidade do contrato. Hoje, a previsão é de R$ 5,5 bilhões de investimentos. Entre analistas, há ceticismo quanto a essa licitação, pelo prazo apertado.
Além disso, o governo federal e o do Paraná planejam leiloar dois blocos de estradas no Estado - os lotes 1 e 2, que somam cerca de R$ 15 bilhões em investimentos. Na visão de Frischtak, há chances de as licitações saírem a tempo, embora a forte oposição interna da população paranaense à cobrança de pedágios possa ser um entrave no processo.
Há ainda uma extensa lista de projetos relativamente maduros que ficarão para 2023 - e, portanto, dependerão do resultado das eleições para se concretizar. Em rodovias, os exemplos são diversos: há a relicitação da BR-040; outros quatro lotes de estradas do Paraná; e a Parceria Público Privada (PPP) do Rodoanel Norte de São Paulo, cujo leilão já foi agendado para janeiro de 2023.
Outra licitação de peso que não deverá sair a tempo é a privatização da Santos Port Authority (SPA), que administra o Porto de Santos. Embora o Ministério de Infraestrutura ainda inclua o projeto nas previsões de 2022, o próprio BNDES e analistas de mercado já não veem essa possibilidade, diante da complexidade do contrato e de questões ainda em aberto na modelagem.
A continuidade dos diversos projetos nos próximos governos estaduais e federal gera incertezas. Porém, a percepção é que muitos terão continuidade.
Para Marcos Ganut, sócio da Alvarez & Marsal, os ativos ligados à logística de carga (e principalmente ao agronegócio) são aqueles que têm a maior chance de persistir mesmo com mudanças. “Há um cenário global de demanda por alimentos. Isso não vai mudar, é algo que não depende de políticas locais, então haverá interesse do mercado. No poder público também, porque essas obras são importantes geradoras de empregos”, diz ele.
Fonte: Valor Econômico