Por Maurício Almeida, Vice-Presidente de Automotivo, Industrial, Tecnologia e Service Logistics da DHL Supply Chain.
Com um cenário tão complexo e volátil, fica claro para todos: o mercado automotivo segue em grande transformação, e muitas tendências e fatores que pensamos ser passageiras vão durar mais um bom tempo. Fortemente impulsionada por este contexto, as cadeias de suprimento encontram-se em fase de reconfiguração e mais do que nunca as operações logísticas precisam ter boa responsividade dentro deste novo ambiente para servir bem a indústria automotiva, que continua figurando entre as de maior alcance e impacto global. É sempre bom lembrar que o mercado automotivo emprega diretamente mais de 27 milhões de pessoas mundialmente, através de suas longas cadeias de produção e enorme variedade de fornecedores em diversos países.
Antes da pandemia, o setor já estava se reorganizando em direção à eletrificação e às crescentes tecnologias de mobilidade, atendendo aos novos comportamentos dos consumidores e suas demandas por sustentabilidade e inovação, incluindo novos modelos de uso e serviços atrelados aos veículos. A chegada da pandemia não apenas acelerou – e muito – algumas dessas tendências, como também adicionou novas ao cardápio.
A atual escassez de suprimentos e insumos, a falta de força de trabalho em diversos mercados desenvolvidos, os gargalos logísticos em pontos estratégicos da cadeia global, o aumento de custos pela enorme pressão inflacionária na economia global e uma demanda ainda muito volátil em alguns mercados (como o brasileiro) são todos fatores que provocam frequentes reprogramações e paradas de produção. Conflitos internacionais adicionaram um capítulo ao panorama já complexo.
Desta forma, o espaço está aberto para novos elementos de criação de valor em Supply Chain, que incluem extensas possibilidades em termos de práticas de compliance, modelos de precificação, novas especificações de serviços de alta qualidade e velocidade, materialização da agenda de ESG e soluções de Real Estate, ainda que siga havendo espaço para os elementos de valor mais tradicionais tais como produtividade, eficiência e gestão de riscos.
Logo, é preciso atualizar as estratégias visando a performance dos negócios, e neste processo evolutivo cada vez é mais valioso desenvolver relacionamentos e parcerias estratégicas, em que exista pleno acesso e a comunicação flua de maneira transparente com visão “ganha-ganha”. O foco nos clientes e consumidores precisa ser total, e quanto maior é o valor entregue a eles, maior é a lealdade com os serviços, produtos e marcas.
Um fator fundamental em tudo isso são as pessoas. É claro que os clientes e consumidores, mas também os profissionais de Supply Chain automotivo, que tem se desenvolvido muito em uma carreira que vem se tornando cada vez mais interessante e atrativa. As organizações do segmento automotivo precisam continuar trabalhando bem seus propósitos e visões para capturar no mercado e manter profissionais de alta performance, que buscam espaço em lugares com um ambiente inspirador e favorável ao engajamento emocional das pessoas, onde exista responsabilidade social, ambiental e esperança de fazer a diferença. Como resultado, certamente as empresas do segmento colherão muita geração de valor para seus negócios.
Partindo para um ponto de vista mais prático e operacional, um relatório recente da DHL nos EUA já apontava alguns caminhos interessantes. Primeiro, a formação de cadeias produtivas mais curtas e regionalizadas, com busca intensa por fornecedores locais. Isso também está acontecendo no Brasil e outras regiões, e certamente gerando ótimas oportunidades, ressaltando, porém, que uma boa parte dos componentes e insumos ainda deve seguir sendo produzidos globalmente.
O segundo ponto é o uso analítico cada vez mais intensivo de dados, seja de vendas, do comportamento dos consumidores e até das interações digitais, e isto tem ganhado forma e velocidade e deve ser a tônica para desenvolvimento e eficiência em serviços nos próximos anos, além de ser o melhor caminho para lidar com os desafios de previsibilidade e responsividade das operações.
O relatório da DHL também indica uma conexão crescente entre as cadeias de suprimentos, principalmente a partir do compartilhamento de estruturas (armazéns, frota, ferramentas e equipe). Neste sentido, acessar as capacidades de provedores logísticos se mostra uma ótima alternativa, pois ainda há muitas sinergias possíveis entre players deste mercado e também de outros. Para reduzir riscos e a ansiedade também de quem atua neste mercado, é fundamental a visibilidade total, de ponta a ponta da cadeia de suprimentos, em que a integração de informações mantém um papel vital.
Por fim, o relatório aponta uma crescente colaboração entre as principais indústrias do setor, compartilhando boas práticas, estruturas de distribuição, pesquisas de desenvolvimento e até investimentos em inovação e digitalização. Tudo para ganhar flexibilidade, melhorar a experiência dos clientes, gerar valor e reduzir custos.
Como vemos, embora o cenário continue a apresentar grandes desafios, há muitos caminhos a percorrer, muitas possibilidades a explorar em busca da melhor performance de negócios. Mais do que nunca, uma coisa está clara: é preciso desenvolver parcerias e colaborar!