O reajuste quase mensal do combustível tem elevado os custos das empresas que fazem transporte, armazenagem e gestão de cargas há, pelo menos, dois anos, conforme aponta a edição 2022 do estudo que traça o Perfil do Operador Logístico (OL), realizado pela Associação Brasileira dos Operadores Logísticos - ABOL. Na pesquisa, que abarca um universo de 1.000 OLs, de diferentes portes, 77% afirmam que a alta nos preços do diesel tem sido a principal responsável pelo aumento dos gastos, pelo menos desde 2020. Aumento nas tarifas de serviços de utilidade pública, como energia e água, vem em seguida. O cenário impacta diretamente na margem de lucro dessas companhias, já que as despesas operacionais representam 74% do montante acumulado.
Não é à toa que a periodicidade de revisão do preço acumulado do combustível desejada por quase 87% dos participantes da pesquisa é trimestral (30%), semestral (29%) ou anual (27%). Quanto maior o prazo, menor o impacto para o mercado, já que o diesel é o principal insumo utilizado nas na movimentação de cargas, chegando a compor mais de 40% de todo o custo operacional dessas prestadoras do serviço. O fato dessas empresas não conseguirem repassar esses aumentos aos seus clientes logo na sequência explica o resultado. Diferentemente da Petrobras, que é detentora de um monopólio, as empresas de logística e transporte não conseguem repassar os aumentos imediatamente, o que pode levar um ou dois meses para acontecer, e a negociação com os embarcadores muitas vezes não ocorre na totalidade do aumento.
O último aumento aconteceu há menos de um mês, quando passou de R$4,91 para R$5,61 na venda para as distribuidoras e, mais uma vez, os OLs se viram obrigados a adotar medidas para driblar os efeitos do incremento feito pela Petrobras. Se o cenário de instabilidade permanecer, a ABOL, inclusive, já prevê uma queda nos investimentos realizados pelos Operadores.
Em 2021, eles investiram R$18 bilhões em tecnologia, inovação, infraestrutura, entre outros. No entanto, podem não atingir o mesmo patamar entre 2022 e 2023, caso continuem sendo obrigados a agir conforme a variação do combustível.
“A alta de R$0,70 no litro afeta toda a cadeia logística nacional e também o comércio internacional. Vai interferir na revisão de custos e contratos estabelecidos pelas companhias com clientes de diferentes portes e segmentos”, destaca a diretora Executiva da ABOL, Marcella Cunha.
“O cenário todo é bastante desafiador. Na prática, os OLs têm duas opções: ou absorvem o aumento e diminuem ainda mais a sua margem de lucro, o que pouquíssimos conseguem fazer, ou repassam adiante, impactando o frete e os preços previamente negociados em contrato com clientes, agravando o atual quadro inflacionário do país, uma vez que esse custo será repassado até a outra ponta, ou seja, ao consumidor final.”, explica Marcella.
Greve - Dentro desse contexto desfavorável, há ainda os impactos indiretos causados pelo reajuste do diesel e da gasolina, como a greve dos caminhoneiros. A situação dos condutores também tem ficado insustentável diante dos gastos com combustível e da manutenção dos caminhões. Segundo o estudo desenvolvido pela ABOL, os OLs levam, em média, 4,2 dias para se recuperarem de cada dia de paralisação e apenas 14% conseguem recuperar a perda financeira.
Repúdio - Em 18 de junho, logo após o último reajuste nos preços dos combustíveis ser anunciado, a ABOL emitiu uma Nota de Repúdio, posicionando-se em relação ao aumento recorrente e aos prejuízos causados ao setor. A Associação expõe a preocupação do setor, no repasse do ônus adiante, o que impactará nos preços das mercadorias comercializadas para a população, agravando o quadro inflacionário atual. E considera a possibilidade de um novo apagão logístico em função da má administração da política de combustíveis, com impactos ao setor e também à própria Petrobras.
Pesquisa - A edição 2022 do estudo do ‘Perfil do Operador Logístico’, encomendado ao o ILOS - Instituto de Logística e Supply Chain, pela ABOL, confirmou um 2021 de recuperação e crescimento para os OLs após o início da pandemia. Foram 391 milhões de toneladas transportadas e R$ 18 bilhões em investimento. Os Operadores Logísticos garantiram 2 milhões de empregos, entre diretos e indiretos, o equivalente a 2% do total de pessoas ocupadas no Brasil. Além disso, arrecadaram R$ 44 bilhões em tributos, evidenciando a sua relevância para o desenvolvimento econômico nacional. A pesquisa traz, ainda, detalhes sobre a importância, evolução e o papel do setor, mapeia desafios e anseios das empresas e traz mais visibilidade e informações ao mercado.