Três letras ganharam destaque no universo corporativo nos últimos anos: ESG (sigla em inglês para Environmental, Social and Governance ou Ambiental, Social e Governança). Há quem associe o termo somente à sustentabilidade. No entanto, o cenário é muito mais amplo e está ligado ao risco financeiro do negócio e dos investimentos. Em evento virtual organizado pela Associação Brasileira dos Operadores Logísticos (ABOL), o especialista no tema, Roberto Roche, deixou claro para as 30 maiores empresas do setor de logística brasileiro que “ESG não é filantropia e caridade, não é certificado e não é apenas números ou sustentabilidade corporativa”. A abreviação está ligada à gestão de riscos e se engana quem busca a compensação como solução para driblar as exigências do mercado.
O surgimento do ESG foi o ponto de partida do encontro, trazendo à tona acidentes que marcaram a história do mundo corporativo no País e no mundo, como as 47 ocorrências envolvendo nitrato de amônio. "Grandes acidentes, empresas quebrando, multas milionárias. Todo impacto socioambiental causa um desastre econômico na região, na empresa e até mesmo em toda a cadeia de logística de suprimentos. O ponto em comum nos acidentes é justamente a falta de governança. É preciso mostrar para os investidores que o risco ESG está sob controle", destacou Roche, que tem MBA pela Harvard University USA e foi conselheiro do Conama e Perito Socioambiental do Ministério Público Federal.
Um dos primeiros acidentes com nitrato de amônio deixou 561 mortos e quase 2 mil feridos em 1921. Ocorreu em uma fábrica da Basf em Oppau, na Alemanha, quando cerca de 4,5 mil toneladas de uma mistura de sulfato de amônio e nitrato de amônio explodiram. “O risco estava em ninguém se importar com o armazenamento e operação, se acontecia perto de comunidade, ao lado de algum rio, se havia crime ambiental. A ONU começou a colocar regras apenas na década de 80”, mencionou o palestrante.
Segundo o especialista, ESG é um processo infinito, que aos poucos vai sendo elaborado, ou seja, não acontece de um dia para o outro. Isso significa que não há empresa 100% ou 0% ESG. "Não é classificação binária, precisa ser analisado o nível de maturidade ESG". Para Roche, não existirá empresa que a sociedade não queira. O segredo é estar atento ao anseio dos investidores, que são soberanos em seus critérios. "É fundamental ter uma
gestão de riscos para demonstrar ao mercado financeiro e à sociedade que podem dormir tranquilos", afirmou o especialista,
De acordo com ele, os investidores vão analisar o nível de maturidade ESG da empresa, solicitando um plano de ação para o pilar mais fraco. “O sarrafo socioambiental está subindo e é importante que se conheça todos os riscos socioambientais do seu negócio. Tenham fôlego e estômago na hora da regulamentação. Há uma forte cobrança na mão invisível do mercado. É preciso estar atento sobre quanto vale a imagem da empresa em que vocês trabalham”, disse Roche, cuja experiência levou à vice-presidência em ESG para fundos de investimentos na África e Ásia.
Para a diretora executiva da ABOL, Marcella Cunha, o evento - realizado no último dia 24 - foi de suma importância para os Operadores Logísticos, que vêm buscando uma gestão mais baseada em valores humanitários, ambientais e de transparência não só para prestar contas ou atrair investidores, mas porque simplesmente é a coisa certa a se fazer. "Ao mesmo tempo, é importante desmistificar e desromantizar o que ESG significa no mundo corporativo. A palestra do Roberto Roche foi muito esclarecedora nesse sentido."
Operadores Logísticos e o ESG
Atentos e preocupados com as abordagens relacionadas ao ESG, os Operadores filiados à ABOL contam com ações ligadas, por exemplo, à questão ambiental. Entre elas, estão o estabelecimento de políticas de racionalização de uso de insumos e o investimento na instalação de usinas solares em plantas logísticas, cobertura de pátios com placas fotovoltaicas e a aquisição de veículos ecológicos (elétricos, híbridos, a gás ou hidrogênio).
Várias também integram o "Pacto Global da ONU”, maior iniciativa voluntária de sustentabilidade corporativa do mundo, que visa mobilizar a comunidade empresarial na adoção e promoção, em suas práticas de negócios, de Dez Princípios universalmente aceitos nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e combate à corrupção.