Investimentos em infraestrutura rodoviária, isenção de impostos, qualificação técnica do mercado e estabilidade político/econômica. Esses são alguns dos principais anseios dos maiores Operadores Logísticos (OLs) do país quando se trata da Região Sudeste, onde atuam 97% das empresas do segmento. Concentrados, sobretudo, em São Paulo e no Rio de Janeiro, devido à elevada demanda desses estados, os OLs direcionam nos clientes da indústria farmacêutica um volume expressivo de serviços, acompanhando o cenário nacional, já que o estado de São Paulo ampliou, entre 2010 e 2020, a sua participação no total de produtos farmoquímicos, farmacêuticos e biológicos exportados, passando de 57,7% para 63,7%.
Os anseios dos OLs compõem uma pesquisa realizada recentemente pela Associação Brasileira dos Operadores Logísticos (ABOL), junto aos seus associados. Ao traçar em meados de 2022 o perfil da atividade no Brasil, a entidade, junto ao Instituto de Logística e Supply Chain (ILOs), já havia apurado que houve uma concentração natural dos Operadores no Sudeste, desde que começaram a se consolidar no mercado brasileiro, há aproximadamente três décadas, e que também houve um aumento de 5% do número das instalações na região, entre 2020 e 2022. A pesquisa também revelou, entretanto, que o número de instalações dos OLs - como armazéns e centro de distribuição, transit points, escritório administrativos e corporativos - aumentou em todas as regiões do país, com destaque para o Centro-Oeste (aumento de 25%), o que demonstra a capilaridade destes prestadores de serviços logísticos integrados, que abarcam transporte (por qualquer modal), armazenagem e gestão de estoque.
O alto percentual ainda presente no Sudeste não surpreende, uma vez que a localidade é a mais populosa, com um total de quase 90 milhões de habitantes, além de ser vista como uma das mais estratégicas ao liderar a economia, com um PIB de 55,4%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre janeiro e maio deste ano, por exemplo, o Sudeste concentrou 88,4% do faturamento das lavouras brasileiras de café.
Esse é apenas um dos cenários positivos observados na região, que também se destaca pelo cultivo de cana de açúcar, soja e frutas cítricas. No ramo de serviços, a indústria automotiva está na lista dos principais mercados em âmbito geral. O segmento automotivo também está entre o de maior demanda para 20% dos Operadores Logísticos entrevistados pela ABOL, ao lado do varejo/e-commerce, com o mesmo percentual. O primeiro lugar ficou para a indústria farmacêutica, com 60%. Na pesquisa feita no ano passado com o perfil dos OLs, os setores em questão estavam na quinta, sexta e nona posição, respectivamente. Em primeiro lugar da pesquisa de 2022 estavam os clientes da indústria de cosméticos, sendo atendidos por 65% dos Operadores.
Para atender o constante crescimento do Sudeste, os OLs focam em estratégias e projetos dedicados que os possibilitem oferecer novos serviços para novos clientes – e aqui se destacam as operações hospitalares. Para isso, os Operadores priorizam a construção e reformulação de centros de distribuição e cross docking, e expansão de rotas. O objetivo da maioria é seguir com o foco no eixo Rio-São Paulo, devido à maior presença das empresas, consumidores e malhas viárias. Ali, ao mesmo tempo em que estão próximas de dois centros urbanos com alta concentração de consumidores, também contam com saídas rodoviárias fáceis para a distribuição para o resto do país. No entanto, algumas empresas já começam a se dedicar a outros estados, como Minas Gerais, além de diversificar os projetos a nível nacional para aumentar a rentabilidade geral do negócio. A razão para a saída de empresas do Sudeste, entretanto, nem sempre é racional e orientada por ganhos em eficiência logística. Às vezes, trata-se de incentivos fiscais e tributários interessantes.
“O Sudeste oferece, constantemente, oportunidades de novos negócios aos Operadores Logísticos. Ao mesmo tempo, eles ainda precisam driblar desafios, como os altos custos. Na pesquisa que realizamos, 60% das empresas apontaram os custos operacionais como o maior entrave à logística da região. Os outros 40% demonstraram descontentamento com a escassez de malha ferroviária e a falta de mão de obra. No caso dos custos, o combustível (diesel) segue sendo o insumo mais caro para os OLs, uma vez que hoje representam, em média, 30% de todo o custo de uma operação rodoviária”, destacou a diretora-executiva da ABOL, Marcella Cunha.