28/03/2024

Caminhões na rota da descarbonização

 Caminhões na rota da descarbonização



A redução da taxa Selic e a expectativa de mais cortes em 2024, somadas aos recentes anúncios do governo federal como o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), aquecem o mercado de caminhões no Brasil. Mesmo com as tensões geopolíticas internacionais e a redução da safra de grãos, o tom no setor é de otimismo se comparado ao começo de 2023. Naquele período, o cenário era de transição e adaptação à norma do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve P8) e os compradores ainda esperavam que o impacto da regra ficasse mais claro.
“O período de retração de mercado, quando da entrada de uma nova fase, historicamente vai se normalizando com o passar dos meses”, diz Gustavo Bonini, vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Em fevereiro, foram licenciadas 8,4 mil unidades, 3,3% a mais do que no mesmo mês de 2023. As exportações, porém, caíram 19,5% na mesma comparação, enquanto a produção aumentou 25%. A alta no primeiro bimestre foi de 49% em relação aos dois primeiros meses do ano passado. A expectativa da Anfavea é de que a indústria de caminhões e ônibus cresça 14,1% neste ano.


Beto Zampini, conselheiro da Associação Brasileira de Logística (Abralog) e CEO da operadora logística Imediato Nexway, destaca duas razões para o momento mais favorável: o esforço dos fabricantes para recompor os prejuízos e a tendência de baratear os financiamentos. A avaliação do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de São Paulo e Região (Setcesp) é mais cautelosa.Segundo Marcelo Rodrigues, vice-presidente da instituição, “porque a demanda está alternada, com altos e baixos e imprevisibilidade de trabalho e remuneração”.


Para a Volvo Caminhões, o ano começou com perspectivas de expansão. “Acumulamos uma robusta carteira de pedidos para os próximos meses, com bom número de cotações dos transportadores. No segmento de caminhões acima de 16 toneladas, em que atuamos, estimamos um crescimento de mercado de 10% a 15% para todas as marcas”, diz Alcides Cavalcanti, diretor executivo. As projeções são estimuladas pela demanda global de commodities (agrícolas e minerais). Em 2023, a empresa começou a negociar caminhões elétricos no Brasil, em fase de experimentação. O movimento havia sido iniciado na Europa em 2019.


Já a Scania não comercializa modelos elétricos no Brasil, mas trouxe, a pedido da PepsiCo, o semipesado P25 6x2, fabricado na Suécia, para testes de performance e rotas na operação logística interna da fabricante de bebidas. A fase de experimentação “vai possibilitar o conhecimento necessário para o aprimoramento e adaptação às necessidades locais”, diz Alex Nucci, diretor de vendas de soluções da Scania Operações Comerciais Brasil. Ele destaca, no entanto, a procura pelos caminhões a gás. “Em dezembro, tínhamos uma carteira de 150 pedidos para começar o ano. Hoje, estamos chegando a cerca de 200.”


Na visão de Marcio Querichelli, presidente da Iveco para a América Latina, não há um caminho único na estratégia de descarbonizar o setor. “Serão necessárias várias tecnologias para substituir o diesel, passando pelo gás natural, biometano e eletricidade.” A Iveco investiu em uma linha completa, dos leves aos pesados, de veículos com propulsão alternativa. Ainda neste primeiro semestre, a marca trará ao Brasil o primeiro lote do eDaily, elétrico, que vai operar no transporte de cargas em centros urbanos.
Em 2023, o grupo Daimler Truck lançou, na Europa, o eActros 600, caminhão pesado elétrico a bateria para longas distâncias, e apresentou o protótipo do GenH2, que ultrapassou a marca de mil km com um abastecimento de hidrogênio líquido. Por aqui, a Mercedes-Benz do Brasil, que pertence à holding, está em fase de preparação para a eletromobilidade. “Isso ocorrerá no momento certo, considerando a viabilidade tecnológica, econômica e comercial, as condições de aplicação e o suporte em termos de infraestrutura para nossos clientes”, afirma Jefferson Ferrarez, vice-presidente de vendas, marketing e peças & serviços caminhões..
A Tegma Gestão Logística realizou recentemente a conversão de um caminhão a combustão para propulsão elétrica com baterias. O modelo cegonha será utilizado para transportar veículos zero-quilômetro ao Paraguai. Estima-se que possa percorrer até 700 km em um único dia. Segundo Sandro Torres, gerente de transportes da empresa, trata-se de um projeto-piloto que servirá como um “laboratório para o desenvolvimento de pontos de recarga e testes de autonomia”.


Na perspectiva dos operadores logísticos, a compra de caminhões elétricos é, de fato, uma tendência. Entretanto, segundo Marcella Cunha, diretora-executiva da Associação Brasileira de Operadores Logísticos (Abol), deve haver um planejamento estratégico. “A maioria das empresas tem optado por usar os caminhões elétricos em distâncias menores, até mesmo na chamada última milha, devido à dificuldade de autonomia e infraestrutura para carregamento”, diz. “Os modelos híbridos surgem como uma solução eficaz e versátil para as atividades de distribuição em ambientes urbanos, unindo o melhor dos dois mundos em eficiência energética e autonomia.” Aqueles a gás, por sua vez, surgem como opção para distâncias maiores e dispõem de uma rede de abastecimento mais consolidada. A tendência é que os postos reduzam gradualmente a venda de combustíveis líquidos, transformando-se em pontos multisserviço de mobilidade, segundo a projeção de Elmar Gans, sócio e líder do setor automotivo na consultoria Mirow & Co. “Eles deverão ter infraestrutura para oferecer diferentes fontes de abastecimento.” Unidades assim têm sido chamadas de “postos do futuro.”
Em relação ao futuro, para gestão eficiente das frotas os operadores logísticos apostam no monitoramento das torres de controle com inteligência artificial (IA). A tendência se soma a recursos como telemetria integrada, câmeras embarcadas e sensores de pneus. “A IA pode ser usada para analisar dados relacionados à segurança da carga, monitorar o comportamento dos motoristas e identificar potenciais riscos de acidentes ou roubo. Isso permite uma resposta mais rápida e eficaz a situações de emergência”, afirma Cunha.


Fonte: Valor Econômico



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