O presidente da Raízen, Ricardo Mussa, disse que a matriz energética precisa ter espaço para reduzir dependência de óleo diesel.
Segundo ele, o país é superavitário em petróleo, mas, por ser dependente de alguns produtos processados, sofre hoje num cenário em que há corrida pelo combustível. Mussa ressaltou que, por causa da Guerra na Ucrânia, as refinarias no mundo estão trocando o gás natural nos respectivos processos pelo diesel.
Além disso, no quesito ambiental, o país tem a maior parte das emissões de gases de efeito estufa no setor de transportes. Para ele, incentivos ao biometano em transportes ajudariam a reduzir a dependência do diesel. A Raízen tem projetos para conversão da vinhaça (rejeito da produção do etanol) em biometano.
Já o diretor de refino e gás natural da Petrobras, Rodrigo Costa Lima e Silva, afirmou que a atual exposição do país ao mercado de gás natural liquefeito (GNL) abre uma fronteira positiva para o biometano, especialmente por meio do RenovaBio, programa de incentivos a combustíveis renováveis.
Costa acrescentou que, com a adoção de medidas que representem avanços regulatórios do RenovaBio, a Petrobras está pronta para avançar em projetos de biorrefino, especialmente na produção de diesel renovável, com as mesmas características do correspondente fóssil.
Mussa e Costa participaram de painel do Congresso Mercado Global de Carbono, no Rio de Janeiro.
Imposto sobre combustíveis
Mussa defendeu a paridade de preços de importação utilizada pela Petrobras e disse que, se não houver paridade, a importação ficará mais cara.
O executivo ressaltou que o pagamento de impostos sobre combustíveis no ano passado foi recorde, sem revelar valores. “O mesmo deve ter acontecido com a Petrobras”, salientou.
Num cenário de alta de preços de combustíveis, o executivo destacou o papel dos consumidores no mercado, especialmente usuários de veículos automotores, equipados com motores flex, que podem ser abastecidos com gasolina, etanol ou com os dois ao mesmo tempo.
Ele destacou que os preços do etanol, em média correspondeu a 66% dos valores da gasolina nos últimos cinco anos — apesar de variações do preço atrelados à sazonalidade.
Mussa observou que boa parte dos consumidores não consome etanol mesmo com preços mais vantajosos na média, o que classifica como “decisão errada”, por vários motivos, como culturais — no passado, usar carro a álcool era mais difícil no inverno, como recordou.
Para ele, reduzir os impostos, mesmo que temporariamente, é uma saída inteligente para reduzir impactos para os consumidores. Da mesma forma, é válido adotar mecanismos de suavização de preços em cenários adversos, como acontece agora, com a Guerra na Ucrânia, ressaltando que políticas públicas adotadas no passado para baixar preços artificialmente não funcionaram.
A consequência, prosseguiu, foi que o último projeto novo de usina a etanol saiu do papel há 11 anos. “Sei que é difícil essa conversa, mas o preço tem que subir”, disse Mussa, explicando que a alta de preços sinaliza o momento do mercado.
No mesmo painel que Mussa participou, o presidente do conselho de administração da Copersucar, Luís Roberto Pogetti, disse que o etanol é “formador, não tomador de preços”.
“O consumidor só vai comprar etanol se preço da gasolina for mais caro”, pontuou Pogetti.
Fonte: Valor Econômico