A colisão entre um caminhão e um trem, ambos carregados, no dia 18 deste mês, em Rolândia (PR), foi mais um retrato de situações que atrasam entregas e elevam o custo de logística no Brasil. Com o acidente, houve sérias avarias no caminhão (que cruzou a linha férrea), na locomotiva (que descarrilou com o choque) e em uma residência, invadida por uma parte da composição. Nesse episódio não houve vítimas, e os prejuízos foram apenas financeiros, mas nem sempre é assim.
Seja por descuido dos motoristas, problemas na infraestrutura ou falhas mecânicas, o número de mortes por acidentes nas estradas federais vem crescendo continuamente desde 2020. De acordo com o Painel de Acidentes Rodoviários da Confederação Nacional do Transporte (CNT), foram 5.293 mortes em 2020; 5.396 em 2021; 5.439 em 2022 e 5.605 no ano passado. Em 2022, 2.448 pessoas perderam a vida em acidentes envolvendo caminhões, o que representa 45% das ocorrências no ano, segundo o Anuário Estatístico da Polícia Rodoviária Federal de 2022.
“É como 28 aviões caindo cheios por ano. Se caíssem 28 aviões, todo mundo ficaria horrorizado”, compara o CEO da nstech, Vasco Oliveira. Ele acrescenta que, como se trata de acidentes com caminhões, pouco se fala sobre o assunto. Além da perda de vidas, Oliveira chama atenção para o custo. “No Brasil, 13% do PIB é gasto com logística, contra 8% nos Estados Unidos.”
Problemas de infraestrutura, como condições das estradas, estão fora do controle da iniciativa privada. Mas empresas como a nstech – que segundo Oliveira é a maior da América Latina voltada para tecnologia em transporte – agem para melhorar a eficiência de companhias que atuam no segmento, sejam transportadoras, embarcadores (os donos da carga) ou mesmo caminhoneiros autônomos.
O executivo diz que, no Brasil, o principal problema está na produtividade. Segundo ele, em 40% do tempo os caminhões rodam sem carga ou estão parados. “Caminhão para ser produtivo precisa estar sempre rodando e cheio. Nossas tecnologias ajudam nisso”, diz.
No ano passado, a empresa lançou uma plataforma batizada de Open Logistics, com soluções integradas para a cadeia logística.
Uma das soluções desenvolvidas pela nstech é um software que ajuda a conexão e a automatização da relação entre os agentes da logística. O exemplo que ele usa é o programa que a empresa desenvolveu para a Rumo – maior operadora de ferrovias do Brasil, dona do trem envolvido no acidente com o caminhão no Paraná.
Oliveira informa que a empresa tinha um problema com a “enorme fila de caminhões” que se formava nos terminais da companhia, à espera do desembarque. “Hoje, todo terminal é automatizado.”
‘Reserva em restaurante’
De acordo com o executivo, o sistema funciona de forma semelhante aos aplicativos que possibilitam reservar horário em um restaurante. “É possível fazer agendamento com a transportadora ou o caminhoneiro, como se fosse uma reserva em um restaurante”, afirma.
“Quando o caminhoneiro chega, é liberado na portaria por meio de reconhecimento facial. A cancela abre e a balança faz a pesagem da carga automaticamente”, garante.
Ele informa que no auge da safra de grãos mais de 2 mil caminhões levavam carga diariamente para desembarque, movimento que às vezes, segundo ele, gerava espera de “alguns dias”.
“Ajudamos os clientes a crescerem mais, gastando menos e de forma mais sustentável.” A Rumo transporta 28% do volume de grãos exportados pelo Brasil.
Oliveira diz que, graças ao programa, que realiza o que ele chama de “orquestração” da logística, o tempo médio de espera do caminhão caiu em até 45%, enquanto custos com estadia recuaram 70%.
Entre outras funções, o software da nstech também ajuda na gestão da jornada de trabalho do motorista. Oliveira diz que, de acordo com a Lei do Caminhoneiro, o período de espera entre carga e descarga deve ser computado como período de trabalho.
Além disso, o programa desenvolvido pela empresa monitora as ações do motorista ao volante, o que serve para educar e inibir condutas indesejadas (excesso de velocidade ou distrações, como mexer no celular enquanto dirige, por exemplo). Com isso, ele afirma que consegue reduzir acidentes em mais de 90%.
O executivo – que teve empresa de operação logística antes de investir em uma companhia voltada ao desenvolvimento de tecnologia para o setor – prevê que no futuro a logística deverá ser cada vez mais automatizada, tanto “da porta para dentro como da porta para fora” da empresa.
Ele também acredita que o segmento será mais “colaborativo”, inclusive entre concorrentes. Oliveira define como logística colaborativa a operação de compartilhamento entre diversos usuários, mesmo entre concorrentes.
Para exemplificar, ele cita o sistema Banco24Horas, em que várias instituições bancárias compartilham o mesmo serviço de logística e pontos de atendimento. Ele também garante que a inteligência artificial terá papel importante para a logística.
Fundada há três anos em São Paulo, a nstech já está presente em 15 países. Além das Américas (do Norte, Central e do Sul), Oliveira informa que atua em Portugal e Angola. No Brasil, a empresa tem sede na capital paulista e escritórios em mais 20 cidades de diversos Estados.
Ele diz que, dos 4 mil funcionários, 800 estão ligados à área de tecnologia. No último ano, o executivo informa que a receita recorrente alcançou R$ 800 milhões.
Fonte: Estadão