23/11/2021

"Três perguntas: a infraestrutura e logística brasileiras e a COP26"

 "Três perguntas: a infraestrutura e logística brasileiras e a COP26"


A COP26 terminou no último dia 13 tendo como principal compromisso a manutenção do objetivo de limitar o aquecimento global em 1,5ºC. Esse objetivo já havia sido estabelecido na COP21, realizada em 2015, através do Acordo de Paris.

Em termos de infraestrutura e logística, a COP26 emitiu declarações com o objetivo de fazer com que todos os novos carros e vans vendidos a partir de 2040 sejam de emissão zero; que as frotas comerciais e de aplicativos sejam de emissão zero até 2030; que o setor de aviação civil passe a ter saldo zero de emissão até 2050; e que a navegação marítima tenha seis corredores verdes em meados desta década, e que passe a trabalhar, a partir da década de 2030, com combustíveis limpos, embarcações de emissão zero, sistemas de propulsão alternativos e que se monte um sistema portuário global que dê suporte ao novo modelo de operação.

Agora é começar a trabalhar para fazer com que os compromissos se tornem de fato realidade e não tenham que ser repaginados na COP31. Conversamos com Paulo César Rocha, especialista em infraestrutura, logística e comércio exterior, e diretor da LDC Comex, sobre o que o Brasil precisa fazer para ter uma infraestrutura e logística sustentáveis.

Qual a sua avaliação da COP26? O Brasil está preparado para cumprir as metas estabelecidas na conferência?

A importância da COP26 para toda a população mundial é que os governos e sociedades civis decidiram dar um termo ao aumento contínuo da emissão de carbono. Este processo vem desde o início da Revolução Industrial, com reflexo na elevação da temperatura da Terra. Como consequência, temos desastres naturais, climáticos e a elevação do nível dos mares. Um dos pontos levantados na COP26 para atendimento de suas metas é a modificação da matriz de energia dos meios de transportes, o que afeta toda a logística. A questão não é se o Brasil está preparado ou não. O Brasil tem que se preparar.

O que precisa ser feito para que o Brasil tenha uma infraestrutura e logística sustentáveis?

Para cumprir as metas fixadas pela COP26, o Brasil precisa dos seguintes rearranjos na logística:

mudar a forma de propulsão dos veículos rodoviários e ferroviários para eletricidade e dos veículos hidroviários para hidrogênio verde ou amônia;
implantar na rede rodoviária pontos de carregamento de eletricidade;
completar a malha ferroviária e dotá-la de eletricidade em toda a sua extensão;
* adaptar toda a rede hidroviária para a nova forma de combustível, prever seu abastecimento em portos e adotar formas de manutenção de hidrovias e acessos portuários.

Na sua opinião, os desafios a serem enfrentados para o desenvolvimento de uma infraestrutura e logística sustentáveis é uma questão de governo ou de Estado? A sociedade tem importância nesse processo?

Estes desafios são uma política de Estado, e não só de governo, porque temos a meta de zerar os combustíveis fósseis. Para isso, temos que otimizar a rede de transportes que atende a logística e refazer o planejamento de fornecimento de energia elétrica. Cabe muito aos empresários e à sociedade civil como um todo, colaborar para o atendimento dessas metas. Os governos têm sérios problemas orçamentários para investir, o que demandará que grande parte dos investimentos seja feita pelo setor privado, que também deve colaborar no sentido de informar quais são as suas demandas. Explicando melhor: com tantos investimentos a serem feitos, não podemos nos dar ao luxo de termos logísticas concorrentes. Temos que decidir quais são os fluxos mais efetivos de transporte em função de informações e necessidades, tanto dos empresários como da sociedade civil.

Por exemplo, quando existe claramente uma fonte de produção e um ponto de destino, temos um claro fluxo de transporte a ser atendido, mas quando temos mais de uma opção, o mercado (empresas e transportadores) é quem vai decidir qual a opção mais vantajosa em termos de custos, disponibilidade, confiabilidade e segurança. A derrocada das ferrovias e da cabotagem no Brasil é um retrato disto. Preço por preço, sempre foram melhores, mas o investimento maciço em rodovias e a falta de investimentos na sua modernização fizeram com que aqueles modais de transporte fossem abandonados.

Outro exemplo seria um contêiner recebido da Europa com destino a Belém. O custo do transporte marítimo até Belém é caro e tem poucas opções porque os transportadores não veem a demanda para lá. Isso faz com que se escolha um porto do Sudeste ou do Sul para sua chegada ao Brasil. Desse porto até Belém, o contêiner pode ir por cabotagem ou por caminhões, sendo que a segunda opção de transporte tem uma vantagem: como a carreta que trouxe a soja para exportação ia retornar vazia, o custo do rodoviário acaba sendo menor. Isso implica que nunca vai haver uma movimentação direta com mais frequência para Belém. Inclusive, esta movimentação agrava a falta de contêineres. Em vez de o contêiner ser esvaziado no porto e ficar disponível para ser utilizado novamente, ele seguirá para Belém para depois regressar. Lembrando que a maioria das cargas que saem de Belém e seus portos próximos são granéis.



Fonte: Monitor Mercantil

Notícias Relacionadas
 JSL apresenta nova unidade de negócios digital para logística rodoviária

30/04/2025

JSL apresenta nova unidade de negócios digital para logística rodoviária

A empresa de serviços logísticos JSL marcou presença na 29ª edição da Intermodal South America com uma nova adição ao seu ecossistema logístico. Lançando um novo capítulo em sua jornada (...)

Leia mais
 Supporte vai expandir capacidade logística em Uberlândia em 47%

29/04/2025

Supporte vai expandir capacidade logística em Uberlândia em 47%

A Supporte Logística irá expandir sua operação em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, com a construção de um novo galpão logístico com cerca de 50 mil metros quadrados (m²) e um investimen (...)

Leia mais
 Brado amplia operações com gergelim e acompanha crescimento do mercado

29/04/2025

Brado amplia operações com gergelim e acompanha crescimento do mercado

O mercado de gergelim está em plena expansão e a Brado, empresa referência em soluções logísticas multimodais, acompanha esse ritmo com um crescimento expressivo no transporte do grão. E (...)

Leia mais

© 2025 ABOL - Associação Brasileira de Operadores Logísticos. CNPJ 17.298.060/0001-35

Desenvolvido por: KBR TEC

|

Comunicação: Conteúdo Empresarial

Este site usa cookies e dados pessoais de acordo com os nossos Termos de Uso e Política de Privacidade e, ao continuar navegando neste site, você declara estar ciente dessas condições.