O novo petróleo, com inúmeras possibilidades ainda desconhecidas de aplicação e cujo impacto no PIB, na produtividade e na vida das pessoas se estenderá por décadas. É dessa maneira que os executivos avaliam a chegada da tecnologia 5G ao país. Para eles, trata-se de oportunidade de ouro para a real alavancagem da indústria 4.0.
Muitas empresas, em especial do setor automotivo, de tecnologia e telecomunicações, já criaram nichos de pesquisas sobre impacto e aplicabilidade do 5G antes mesmo do leilão. Por ora, enquanto aguardam resultados precisos dos impactos diretos na produtividade, as empresas compartilham outra visão sobre o tema: esse tipo de tecnologia exige cooperação e troca de experiências entre diferentes indústrias. Nunca se falou tanto sobre ecossistemas industriais.
Com investimento de R$ 1,4 milhão da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), em parceria com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a WEG, empresa global de equipamentos eletroeletrônicos deu largada no início do ano a um projeto piloto para testar a primeira versão do 5G disponível no Brasil na sua fábrica de controls.O objetivo do “OpenLab 5G” é analisar os limites das três características da tecnologia: transmissão de volume de dados de 1 gigabyte (1GB) por segundo, baixa latência de um milissegundo, e a densificação, com inúmeros dispositivos conectados ao mesmo tempo.
“Os resultados foram muito satisfatórios e muito próximos da especificação. Conseguimos testar robôs móveis e o tempo de latência para troca de informação. Comprovamos os limites da tecnologia atual para gerar expertise e sabermos onde há ganhos e onde não há”, conta Carlos José Bastos Grillo, diretor de negócios digitais da WEG. A empresa inicia, agora, a segunda fase dos testes para “qualificar os ganhos”. Com uso de inteligência artificial, um dos testes avaliou ainda o custo benefício de se usar câmeras na inspeção computacional da fábrica. “Se você tiver 20 câmeras, o 5G começa a ser interessante”, explica Grillo. É esse tipo de resultado prático, que mostra onde é válido ou não o uso do 5G que será compartilhado com diferentes segmentos da indústria 4.0.
De acordo com Carlos Grillo, o fato de os testes promissores terem sido realizados com a especificação do release 15 mostram que ainda há muito por vir. Parques industriais poderão ter cobertura robusta com o 5G, diz ele, utilizando sensores para inspeção, novos conceitos de mobilidade, softwares para mudanças rápidas de layout, conexão e visão global de todos os processos da planta. Os AMR (Autonomous Mobile Robots), os robozinhos percorrendo toda a planta da fábrica, serão realidade em breve. “A diferença do 5G para o Wi-Fi é da água para o vinho”, diz. Haverá mais produtividade, menos erro humano e mais sustentabilidade.
Os estudos produzidos com o projeto piloto na WEG serão socializados com o setor privado. A ABDI, segundo Marcela Carvalho, assessora especial da agência, vê um momento promissor para a indústria 4.0. “A partir do ano que vem estará disponível o release 16 que vai permitir interconexão de robôs, que um robô de inteligência artificial interaja e faça inspeções na fábrica”, diz. “Quando se estabelecer, o 5G será o grande habilitador para computação em nuvem, inteligência artificial, e internet das coisas.”
Outra parceria da ABDI, com a Huawei e a Associação Brasileira de Logística, testou um armazém inteligente conectado ao 5G. Observou-se “melhoria de 25% na eficiência operacional geral, redução de 30% no ciclo de produção, melhoria de 20% no giro de estoque e a eliminação total dos erros operacionais e do uso de papel”.
Na visão de Marco Di Costanzo, diretor de redes da TIM Brasil, a tecnologia 5G exigirá um “trabalho muito colaborativo e indústrias verticais”. Parceria da TIM Brasil com a Stellantis, fechada em outubro de 2020, visa transformar os carros conectados produzidos na fábrica de Goiana (PE) em verdadeiras plataformas conectadas com o 5G. Costanzo explica que dois parâmetros estão sendo testados: o número de veículos que pode ser produzido por unidade de tempo e o controle de qualidade, com medição de taxa de erro a ser evitada. A parceria, diz ele, junta “futuro com futuro” e testa os efeitos da robotização avançada.Além de projetos com a indústria 4.0, a TIM foca em pesquisas no setor de agronegócios e smart cities. “Não acreditamos que a TIM, sozinha, possa desenvolver solução para qualquer setor. Acreditamos em ecossistemas, em colaboração e prover soluções colaborativas.”
Segundo o “Ericsson 5G Business Potential”, essa tecnologia impulsionará até R$ 7 bilhões até 2030 na indústria 4.0. “As redes 5G oferecem a chance de se construir fábricas inteligentes e realmente aproveitar as vantagens de tecnologias como automação, inteligência artificial, realidade aumentada para solução de problemas e internet das coisas”, sustenta Georgia Sbrana, vice-presidente de assuntos corporativos da Ericsson para o Cone Sul da América Latina.
O 5G é uma tecnologia “de propósito geral, transversal” que permite a integração de diferentes tipos de automação na indústria, diz o professor de direito econômico da FGV Caio Mário da Silva Pereira Neto, especialista em telecomunicações. Ele prevê para a indústria 4.0 uma enorme otimização da cadeia de suprimento, a comunicação massiva entre máquinas e a integração de múltiplas plantas e linhas de montagem.
Para Alexandre Gomes, diretor de marketing da Embratel, “o ecossistema 5G é o mais desafiador que a indústria já teve”. É preciso haver bilhões de dispositivos conectados - “e estamos no meio de uma crise de chips” -, novos espectros, frequências e uma enorme infraestrutura.“Mais do que nunca essas coisas terão que ser compartilhadas”, afirma. Na visão de Roseli de Deus Lopes, professora da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), é preciso intensificar a colaboração da academia com as empresas, uma relação, segundo ela, de ganha-ganha.
Fonte: Valor Econômico
27/11/2024
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