20/08/2021

Os setores que ganham com a privatização dos Correios

 Os setores que ganham com a privatização dos Correios


A Câmara dos Deputados votou no início deste mês o projeto de lei que abre caminho para a privatização dos Correios. Com o texto aprovado por 286 votos a 173, o PL segue agora para o Senado. O assunto é polêmico e debatido há anos. Um dos principais argumentos a favor é que a venda da estatal trará preços melhores aos consumidores. Do lado contrário, a alegação é que as regiões mais distantes do País não serão mais atendidas, tendo em vista que operações como essas podem não dar lucro.

O E-Investidor conversou com especialistas para saber quais setores tendem a se beneficiar com o avanço dessa agenda. Segundo José Francisco Cataldo, head de research da Ágora, a desestatização dos Correios é complicada. “É importante focar em algumas coisas. Quando desestatizar, essa empresa vai ser mais eficiente do que é atualmente? O serviço oferecido para a população vai ser de qualidade igual ou superior? Haverá redução de gastos do governo naquele setor ou não?”, questiona.

Setores beneficiados\
Como a pandemia acelerou as compras na internet, as empresas varejistas no Brasil passaram a pensar em mais investimentos em logística para atender a demanda. Na semana passada, o Mercado Livre anunciou dois novos centros de distribuição no País, um em Franco da Rocha (São Paulo) e outro em Belo Horizonte (Minas Gerais).

Em julho, a companhia informou que não possui interesse nos Correios e que segue ampliando sua malha logística. “Entretanto, a empresa acompanha as discussões sobre a privatização da estatal e está aberta para contribuir com os agentes públicos para que o processo seja eficiente para o Brasil e aos nossos usuários”, diz o comunicado do Mercado Livre.

Para Cataldo, como a estatal tem monopólio apenas no envio de cartas e telegramas, nenhum setor da economia será beneficiado ou prejudicado pela privatização.
Mauro Morelli, estrategista-chefe da Davos Investimentos, explica que a estatal tem uma parte do ponto de vista econômico importante, que é a distribuição de bens e produtos. Para ele, toda a indústria de bens de consumo pode ser impactada positivamente se tivermos, com a privatização, um aumento de produtividade, agilidade e uma redução de preço por parte dos Correios privatizados.

“Claramente o varejo é um dos setores que pode se beneficiar, mas grande parte das ações desse segmento já tem sua distribuição própria. O que podemos ter é um impacto para o pequeno comerciante, aquele que efetivamente utiliza os Correios”, diz.

Além do e-commerce, Anderson Meneses, CEO da Alkin Research, acredita que todo o setor de logística tende a ganhar. “A privatização dos Correios ocorrer é positivo. Temos um histórico da iniciativa do setor privado ser mais eficiente do que o setor público, isso sinaliza uma boa expectativa com a estatal sendo vendida”, diz.

André Pimentel, sócio da Performa Partners, também destaca que como os Correios funcionam como operador logístico, a companhia poderia receber investimentos e se tornar competitiva no momento pós-privatização. Ou seja, isso pode significar um ganho para outros setores da economia.

“Dessa forma haveria mais um competidor como operador que realiza esse tipo de serviço para as empresas de maneira geral. O benefício é para a sociedade como um todo, com o barateamento de entregas, rapidez e eficiência”, diz Pimentel.

Impacto nas empresas de capital aberto\
Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, diz que o resultado da privatização dos Correios depende do player que fizer a aquisição. “Dependendo de quem comprar, diminuiria os custos de logística das maiores operadoras de e-commerce. Basicamente, há a possibilidade da JSL (JSLG3), da Sequoia (SEQL3) e dos players de e-commerce fazerem a aquisição dos Correios”, diz Jansen. Ou seja:uma grande empresa que comprar a estatal e conseguir reduzir os custos com logística pode se beneficiar.

Na visão de Pimentel, a privatização em si não deveria impactar diretamente nenhuma empresa listada em bolsa. Porém, como companhias que têm uma parte relevante do seu negócio baseado em e-commerce utilizam os Correios para fazer as entregas, a desestatização pode ser positiva. As ações das Lojas Americanas (LAME4+3,33%), Americanas S.A (AMER3),Via (VVAR3-6,30%) e Magalu (MGLU3+0,80%) são alguns exemplos citados pelos analistas de mercado.

“Esses são os principais papéis que podem ser impactados pela privatização dos Correios em função da melhoria do processo, dos serviços prestados e até mesmo do menor custo, dado que a empresa privatizada deveria investir bastante para melhorar a produtividade, eficiência e competitividade”, diz Pimentel.

Ainda há a possibilidade de uma empresa internacional adquirir os Correios, um ponto que precisa de atenção na opinião de Meneses. “Isso porque, se Fedex, DHL, Alibaba ou UPS ganharem a privatização, pode ser um fator que trará uma competição maior lá de fora, o que é um risco para a bolsa brasileira. Mas, independentemente de quem levar, haverá uma capacidade de ampliar muito forte as entregas no Brasil, dada a grande capilaridade da estatal”, diz.

A proposta\
O Projeto de Lei (PL) 591/21 autoriza a privatização da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) e modifica as atribuições da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que será transformada em Agência Nacional de Telecomunicações e Serviços Postais. Ela se tornaria responsável por regular os serviços postais, assim como assegurar as metas de universalização e a qualidade do serviço oferecido.

Segundo informações da Agência Brasil, para que o serviço oferecido pelos Correios tenha continuidade, o projeto criou duas categorias: a de operador postal e operador postal designado. A primeira divisão diz que qualquer empresa que queira prestar o serviço poderá atuar no mercado de objetos postais, como por exemplo realizando a entrega de encomendas, como já acontece atualmente.

Já o operador postal designado é quem será responsável pela operação dos serviços postais universais como carta simples e registrada, serviço de telegrama e outros objetos postais definidos pelo Poder Executivo Federal, feito mediante a um contrato de concessão, passível de prorrogação.

Além disso, as tarifas, de acordo com o projeto, terão reajustes periódicos e poderão ser diferenciadas com base na geografia e no custo do serviço. Por último, o PL proíbe o fechamento de agências consideradas essenciais para a prestação do serviço postal universal.



Fonte: Estadão

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