08/10/2020

Os entraves da logística para atrair investidores

 Os entraves da logística para atrair investidores


Empresas enfrentam o desafio de abrir capital na bolsa

O setor de logística brasileiro, que hoje ainda é muito fragmentado e pouco desenvolvido, tem buscado aproveitar o cenário atual de juros baixos e liquidez do mercado para iniciar um processo de consolidação e crescimento. Esse movimento tem levado a alguns pedidos de abertura de capital (IPO) de empresas do ramo, como a BBM Logística, a Sequoia e a Vamos (do grupo JSL).

Contudo, ainda que exista uma óbvia atratividade de serviços essenciais a vários setores no país e que podem se beneficiar de catalisadores, como leilões de infraestrutura e melhor regulação, os IPOs e ofertas subsequentes de ações de logística podem a enfrentar percalços no momento atual. Gestores e economistas apontam para razões alheias ao setor, como excesso de operações colocadas na janela atual e questionamentos sobre o valor atribuído às ofertas em meio a um cenário macroeconômico cada vez mais incerto no país.

No transporte rodoviário de cargas, extremamente pulverizado, a expectativa é de mudança no perfil do mercado, com mais aquisições, mais terceirização e maior foco em inteligência e tecnologia, avaliam analistas do setor. Com isso, o ativo das empresas de logística, cada vez mais, é sua capacidade de fornecer um bom serviço, com inteligência e tecnologia, avaliam analistas do setor. Com isso, o ativo das empresas de logística, cada vez mais, é sua capacidade de fornecer um bom serviço, com inteligência e tecnologia, e não apenas a frota.

Hoje, as 30 maiores empresas do setor, reunidas na Associação Brasileira de Operadores Logísticos (Abol), respondem por apenas 19,4% de participação. Nos últimos anos, diversas companhias vêm fazendo aquisições - como a própria BBM e a Sequoia - com o intuito de entrar em nichos específicos do mercado. Ainda assim, a fragmentação é grande.

Apesar do potencial enorme do setor, que atrai interesse de investidores dentro e fora do país, os analistas destacam que a avaliação de cada empresa é muito particular. “É preciso avaliar cada empresa. Se o investidor achar que estão pedindo muito simplesmente não vão comprar nem no preço mínimo. O mercado acaba avaliando se vale a penas investir numa empresa mesmo num cenário promissor”, afirma Isabel Lemos, gestora de ações da Fator Administração de Recursos (FAR).

Hoje, a percepção é que muitos projetos serão adiados para o primeiro trimestre do ano que vem. “Houve tentativa de muitas empresas ao mesmo tempo e nem todas as teses são sólidas e consolidadas. O próprio mercado acabou segurando”, avalia Daniel Damiani, sócio da J K Capital, que assessora a Sequoia.

Um exemplo é o caso da Hidrovias do Brasil, que atua em logística, com foco em cabotagem. A companhia concluiu recentemente sua oferta primária de ações \IPO, na sigla em inglês] com o preço mínimo e teve queda em seu primeiro dia de negociações na Bolsa.

“É um caso muito interessante de negócios, mas o IPO não foi bem pela estrutura que foi colocada. Algumas estruturas estão pegando boas empresa como a Hidrovias e colocando numa sinuca de bico. A história é boa, o investimento é necessário. Mas as estruturas nas ofertas recentes não estão funcionando, e um negócio mal colocado atrapalha os futuros”, diz Bruno Arruda, gestor de renda variável da Gauss Capital.

Para ele, o “valuation” também tem saído acima do esperado. “Muitas vezes adota-se premissas muito otimistas, ignorando o fato que no Brasil há uma insegurança jurídica, mudanças regulatórias, e a gente acaba sempre tendo sustos todas as semanas. Nessas circunstâncias, a oferta acaba entrando num ‘valuation’ muito alto e dando pouca margem para o investidor de monetizar”, avalia.

Há uma série de movimentos em curso que apontam para uma mudança e um crescimento do mercado, segundo Renato Mota, analista sênior da Fitch Ratings. Uma delas é a maior terceirização do serviço de logística por empresas que antes possuíam seus próprios sistemas de entrega. Outro é a terceirização da frota, inclusive por parte de operadores logísticos, que têm recorrido a aluguel de parte dos caminhões usados. “Há operações mais protegidas, que são as dedicadas a um cliente específico, nas quais a demanda da carga precede o investimento. Mas existe também uma parte dos serviços que têm mais volatilidade, e por conta disso empresas começam a alugar parte da frota”, diz ele.

Essas mudanças beneficiam o crescimento de operadoras maiores, como a BBM e a Sequoia, que têm cada vez mais conquistado contratos com grandes fabricantes ou varejistas, e também têm permitido o surgimento de companhias como a Vamos, que ocupou o nicho de aluguel de caminhões.

“A Vamos atende a um modelo de negócios novo, em um momento no qual as empresas deveriam estar migrando para um formato ‘asset light’ \[modelo em que a empresa busca deter poucos ativos]. A Vamos possibilita que as empresas de logística foquem mais em seu negócio principal e deixem de mobilizar capital em ativos, como caminhões”, diz Arruda, da Gauss.

Outra vertente de expansão para o setor é o próprio desempenho de consumo. Apesar do impacto da pandemia na economia brasileira, diversos segmentos viveram uma expansão grande, como o comércio eletrônico, que no Brasil teve um crescimento de 160% a 170%, segundo Damiani, da JK.

“As indústrias que continuaram bem nesse período de crise, como supermercados, Magalu, B2W, são ligadas a consumo e varejo e se mostraram mais resilientes. Algumas até apresentaram crescimento de vendas. A Petz, que teve um IPO de sucesso, é também um retail. Existe correlação alta do desempenho desse tipo de companhia com as empresas de entrega, de logística.”

A expansão do agronegócio, que beneficia muito o setor ferroviário, mas também as empresas que fazem transporte por rodovias, também tem impulsionado as empresas do setor.

Para Mota, da Fitch, o desenvolvimento das companhias no atual cenário se deve, em grande parte, ao cenário de juros baixos e de maior disponibilidade de recursos para que as companhias possam fazer os investimentos necessários á expansão.

Trata-se de um movimento que vem sendo construído nos últimos 15 anos, desde a entrada de empresas estrangeiras no país, diz César Meireles, presidente da Abol.

Para ele, a privatização dos Correios, que está em estudo pelo governo federal, poderá até ter algum impacto, principalmente para empresas que têm operações mais semelhantes à da estatal hoje, como a Fedex e a DHL. Porém, Meireles vê com muito ceticismo a continuidade desse

processo, que poderia trazer uma eficiência grande à companhia. “Tenho dúvidas se será viável trazer um grupo privado a uma empresa com esse endividamento, passivos trabalhistas, além de outras complexidades.”

Fonte: [Valor Econômico

Notícias Relacionadas
 ID Logistics inaugura centro de distribuição em Extrema para atender Puravida da Nestlé

22/08/2025

ID Logistics inaugura centro de distribuição em Extrema para atender Puravida da Nestlé

A ID Logistics, uma das líderes em logística contratual no Brasil e presente em 18 países, inaugurou um centro de distribuição (CD) em Extrema, Minas Gerais. A operação marca o início da (...)

Leia mais
 Gigante de logística prevê impacto em ecommerce brasileiro com 'taxa das blusinhas' de Trump

22/08/2025

Gigante de logística prevê impacto em ecommerce brasileiro com 'taxa das blusinhas' de Trump

Otimistas com o crescimento dos negócios em países latinos, executivos da multinacional de logística alemã DHL não projetam, por ora, grande impacto das tarifas impostas pelo presidente (...)

Leia mais
 Setor de transportes renova recorde em julho e crescimento reflete dinamismo da economia, diz IBGE

15/08/2025

Setor de transportes renova recorde em julho e crescimento reflete dinamismo da economia, diz IBGE

O segmento de transportes foi o único, entre as cinco atividades do setor de serviços, a registrar crescimento em junho, ante maio, com avanço de 1,5% — a quinta alta mensal seguida —, s (...)

Leia mais

© 2025 ABOL - Associação Brasileira de Operadores Logísticos. CNPJ 17.298.060/0001-35

Desenvolvido por: KBR TEC

|

Comunicação: Conteúdo Empresarial

Este site usa cookies e dados pessoais de acordo com os nossos Termos de Uso e Política de Privacidade e, ao continuar navegando neste site, você declara estar ciente dessas condições.