Realidade que há muito vem sendo debatida, a escassez de motoristas é um desafio que demanda atitudes urgentes. Com uma média de 10 mil profissionais deixando os postos sem ser substituídos todos os meses, de acordo com levantamento da consultoria ILOS, o Brasil segue rumo ao colapso na categoria, problema que impactaria os mais variados setores da economia e traria grandes prejuízos.
Para se ter uma ideia mais concreta do cenário, atualmente o país conta com cerca de 4,4 milhões de motoristas habilitados de caminhão e carreta, enquanto em 2015 eram 5,6 milhões. Porém, o transporte rodoviário de cargas representa mais de 60% das movimentações no Brasil. Ou seja: somos um país dependente deste modal e com cada vez menos mão de obra qualificada para tal.
E este déficit não é apenas nacional. Em todo o mundo há mais de 3,6 milhões de vagas em aberto. Para tentar reverter este quadro, alguns países adotam hoje estratégias que podem ser inspiração para o Brasil. Nos Estados Unidos, existem programas de formação acelerada e inclusão de mulheres no mercado, o que gerou um crescimento de 30% em 5 anos. Já em alguns países da Europa há incentivos fiscais para jovens motoristas e também o uso de simuladores digitais para treinamento e engajamento. O Japão adotou caminhões autônomos em rotas seguras.
Para Leandro Silva, gerente de Planejamento, Pesquisa e Inovação na CODEMGE, que participou neste mês de setembro de um Abol Day focado no tema, o caminho para reverter essa realidade por aqui inclui ampliar a visão de infraestrutura. “Garantir pontos adequados de descanso e investir em intermodalidade, com fortalecimento das ferrovias e do transporte aquaviário, são passos imprescindíveis para reduzir a dependência do modal rodoviário”, comenta.
Se medidas não forem tomadas, em 2034 a carga de trabalho será dobrada, causando acidentes, atrasos, ineficácia logística, elevação dos custos, impactos do PIB, impactos na competitividade das exportações, entre outros muitos problemas. Em 2040, a previsão é de colapso.
Outro ponto importante é pensar na faixa etária dos profissionais que estão atualmente na ativa. Quase 30% dos motoristas já são idosos e apenas 5% têm menos de 30 anos. 3,4 milhões de motoristas devem se aposentar até 2029. Ou seja, os próximos anos trazem uma perspectiva de aposentadoria de uma grande parcela dos trabalhadores sem que haja uma tendência de contratações de novas gerações.
Como Pedro Paulo de Almeida, coordenador de Logística na CSN, destacou também ao longo do evento, os impactos da valorização dos motoristas são: “um ambiente mais saudável, maior engajamento e o fortalecimento do sentimento de pertencimento”.
Para a ABOL, algumas iniciativas são imprescindíveis para que o colapso previsto não aconteça. Dentre elas estão a adoção de uma estrutura física mais adequada, com salas de espera confortáveis, banheiros e refeitórios apropriados, planejamentos mais eficientes de viagem, treinamentos, plataformas de cuidado com saúde física e mental, programas de incentivo e capacitação, principalmente, para o uso de novas tecnologias.
“Construir um ambiente mais seguro e atrativo é imprescindível para valorizar quem já está nas estradas e, ao mesmo tempo, despertar o interesse das novas gerações, contribuindo para um Transporte Rodoviário de Cargas mais justo, humano e sustentável”, finaliza Marcella Cunha, diretora Executiva da Associação.