11/08/2021

Expansão das startups no Brasil depende de regulação efetiva

 Expansão das startups no Brasil depende de regulação efetiva


O ecossistema brasileiro de startups não só bateu recordes de investimentos na pandemia, como gerou um grande movimento até entre empresas mais tradicionais do mercado, que se aproximaram deste segmento.

Mesmo assim, o Marco Legal das Startups, tão aguardado por todos e aprovado em fevereiro pelo Senado, ficou aquém do esperado. O objetivo era representar os anseios do ecossistema e uma regulação que pudesse colocar o país em patamares mundiais. As principais demandas envolviam a criação de incentivos tributários para promover o investimento-anjo, inclusão de sociedades anônimas no regime do Simples e a criação de um regulamento para incentivar as stock options -todas essas ignoradas na versão final do projeto.

As startups brasileiras nunca tiveram tamanho impulso no mercado, mas todo esse cenário exige uma resposta urgente. Como criar um ambiente regulatório para promover segurança jurídica para todos esses novos modelos de negócios de risco exponencial? Para muitos especialistas, o ambiente de negócios atual não auxilia as startups em fases iniciais e incentiva a fuga de talentos para outros países.

Ainda hoje, nove em cada dez startups morrem antes de completarem um ano, aponta pesquisa da PwC Brasil.

Apesar de todo cenário econômico instável, segundo a base de dados globais da Crunchbase, cerca de US$ 288 bilhões foram investidos neste ano em startups até o momento. Por aqui, as startups brasileiras captaram só no último mês US$ 484 milhões em investimentos, um volume 35% superior ao mesmo período do ano passado e um marco na história do setor, segundo dados do Inside Venture Capital, relatório da empresa de inovação Distrito.

Até julho, o país ganhou mais quatro novos unicórnios (startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão): MadeiraMadeira, Hotmart, C6Bank, Mercado Bitcoin. No total, já temos 16 unicórnios no Brasil e a tendência é de ainda mais empresas ocupando esse pódio até o final do ano. Algumas áreas se destacam cada vez mais, como varejo, saúde, alimentação, educação, gamificação, logística, energia e financeiro.

A Magazine Luiza, por exemplo, adquiriu em julho a Kabum!, ecommerce de tecnologia e games, por cerca de R$ 3,5 bilhões. Desde o início da pandemia, a empresa da família Trajano já realizou 21 aquisições, com as respectivas empresas no ano de 2020: Estante Virtual, Hubsales, Betta, Canaltech, Inloco, Stoq, Aiqfome, GLF, Sinclog, ComSchool e Hub Fintech, em 2021 VipCommerce, Steal The Look, ToNoLucro, GrandChef, SmartHint, Jovem Nerd, Bit55, Plus Delivery e Juni, além da Kabum!

A pandemia e a tecnologia aceleram a mudança nos hábitos de consumo, exigindo que as empresas sejam ainda mais rápidas e assertivas. Como em um jogo de xadrez, que se deve ter uma visão antecipada de muitos lances à frente, exigindo estratégia, paciência e ao mesmo tempo agilidade diante de tamanha pressão e incertezas do mercado.

As healthtechs, startups voltadas para soluções na saúde, foram as que mais se adaptaram e cresceram nesse período. Segundo dados do Saúde Digital Brasil, entidade que reúne operadores privados de telemedicina, o serviço online cresceu 316% e evitou milhões de idas ao pronto-socorro. Houve ainda uma aceleração da digitalização de receitas médicas em todo país. A educação também foi duramente impactada com a pandemia: segundo dados da Startupbase, houve um aumento de 130% na demanda por aplicativos de educação só no primeiro mês de isolamento social.

Outro setor aquecido tem sido o das foodtechs, startups voltadas a soluções na cadeia de alimentação. Longe dos restaurantes e em busca de praticidade, muitos brasileiros pegaram a rota gastronômica dos ultracongelados gourmet e saudáveis durante a pandemia. Em 2020, os pedidos de entrega cresceram cerca de 250%, apontam dados da consultoria Food Consulting. De acordo com outro estudo da Liga Insights, o país conta com 332 startups voltadas ao segmento de alimentos, com soluções que agilizam processos de gestão, produção e entregas.

Se fizemos tudo isso entre 2020 e 2021 com um ambiente regulatório complexo e pouco atraente, imagine o que poderíamos fazer se tivéssemos uma regulação que realmente promovesse a inovação.

É preciso garantir um ambiente regulatório sustentável para que as startups consigam ganhar escala, efetivamente gerando mais empregos e movimentando a economia. O mundo está em constante transformação e é preciso que nós também estejamos nesse ritmo para criação de novas regras mais justas e inclusivas para o segmento para atingirmos nosso maior potencial. O Brasil é um país extremamente criativo e com alto potencial empreendedor, como os próprios números demonstram, mas é preciso mudanças imediatas. Não temos tempo a perder.



Fonte: Folha de SP

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