Se em 2021 o mercado de trabalho viu mudanças no processo produtivo sendo aceleradas, o cenário para 2022, prevalecendo o fim do distanciamento social, será de recuperação e de reestruturação das empresas. Segundo especialistas no tema, áreas destacadas durante o período intenso da pandemia de coronavírus ganharão ainda mais força, incluindo o setor de tecnologia, que seguirá com os salários em alta.
O trabalho caminhará para o modelo híbrido nos segmentos onde é viável e será intensificada a busca pelas chamadas soft skils - as habilidades comportamentais encontradas nos profissionais. Além disso, uma função que, até poucos anos atrás, poderia ser considerada um hobby, ganhará mais espaço como profissão.
Uma das maiores consultorias de recrutamento e seleção no mundo, com mais de 300 escritórios em 19 países, a Robert Half fez um estudo com executivos e lançou direcionamentos no Guia Salarial 2022. Mesmo com aproximadamente 13,7 milhões de brasileiros buscando uma colocação, 69% dos empregadores que responderam à pesquisa se queixaram da falta de profissionais qualificados. Até por isso, há uma aposta na valorização das habilidades comportamentais do colaborador, mais do que a experiência anterior na função. Conforme o levantamento, as cinco soft skills mais apreciadas, atualmente, são: comunicação, flexibilidade, adaptabilidade, visão estratégica/perfil analítico e visão do negócio.
Para a diretora de recrutamento da Robert Half Flávia Alencastro, o mercado de trabalho vive um momento de transição, com as empresas ainda pesquisando e experimentando as melhores práticas e os modelos de processo produtivo mais adequados. E isso impacta diretamente no perfil do profissional buscado.
Flávia ressalta que as profissões que vão se destacar no próximo ano estão influenciadas pelas demandas geradas. Por exemplo, para o empregador selecionar os benefícios aos colaboradores que estão trabalhando de forma remota, será necessário ter um profissional de recursos humanos capaz de compreender as exigências, de pesquisar e entender as melhores práticas. O mesmo ocorre com uma empresa que mantém um parque tecnológico remoto, que só funcionará com o auxílio de um profissional da tecnologia da informação (TI) capacitado.
— E ainda temos os profissionais clássicos precisando aprender e se reinventar. Tem um pouco de tudo, com profissões mais potencializadas do que outras — afirma Flávia.
Nos dois anos mais recentes, lembra a executiva, as áreas da saúde, tecnologia e logística foram as que mais receberam investimentos, pois precisaram aprimorar de forma ágil os benefícios, a forma de se comunicar nas empresas e de como receber o profissional. As três continuarão com profissões em alta em 2022, conforme Flávia.
A presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos seccional Rio Grande do Sul (ABRH-RS), Crismeri Delfino Correa, concorda sobre as três áreas ainda em alta no próximo ano, mas reforça que a área da tecnologia segue com aquecimento maior do que as demais, principalmente para os profissionais que lidam com análise de dados e e-commerce.
— A área saiu ainda mais fortalecida da pandemia e continuará crescendo, permeando todas as demais áreas. Hoje, muitas profissões deixaram de ser únicas, e a solução é unir conhecimentos para criar novas soluções — sugere Crismeri.
Já a HR Influencer Andressa Paltiano acredita que 2022 ainda será o ano da logística, que segue no mesmo ritmo da tecnologia. Mesmo com a retomada do mercado presencial, o consumo online continua em alta.
— A cultura da compra online veio para ficar. Ainda mais com a abertura dos centros de distribuição na Região Metropolitana, que ampliou o número de contratações — destaca Andressa.
Saldo positivo nas vagas\
Outro setor apontado por Andressa é o do agronegócio. E a justificativa está no rápido poder de adaptação da área, que costuma ter altos investimentos. Sobre a questão, o coordenador do Observatório Unilasalle: Trabalho, Gestão e Políticas Públicas, Moisés Waismann, destaca que é preciso atenção especial ao agronegócio exportador, pois o Rio Grande do Sul é guiado pelas produções de soja, suinocultura e avicultura:
— Precisamos estar de olho na Europa, na Ásia e nos Estados Unidos. Se a pandemia voltar a perder o controle por lá e ocorrerem novos fechamentos, certamente diminuirão as exportações. E diminuindo as exportações, afeta a economia gaúcha de maneira violenta .
Responsável pela carta mensal do mercado de trabalho, produzida pelo Observatório, Waismann tem observado no Rio Grande do Sul, desde junho deste ano, saldos positivos na abertura de vagas, sugerindo uma recuperação do mercado. De acordo com a carta mais recente, no mês de outubro foram gerados 19.478 postos de trabalho no Estado, e o setor comércio, com 6.516 vagas, foi o que mais contratou no período, representando 33% dos postos criados no mês.
Porém, o pesquisador destaca que esta melhora está atrelada à criação de vagas que exigem menor qualificação e, por consequência, menores salários e contratos considerados precários por Waismann - como os trabalhos intermitentes ou temporários. Em um ano, aponta o IBGE, a renda média do trabalhador recuou 10,2%, ficando em R$ 2.489, a queda mais acentuada da série histórica.
Pandemia acelerou mudanças\
Segundo o sociólogo Dario Caldas, fundador do escritório de tendências Observatório de Sinais, com sede em São Paulo, o período de pandemia imprimiu mudanças em termos de grandes áreas e também foi responsável por definir as novidades e as alterações. Há uma constatação, ressalta Dario, de que em 2020 e 2021 se realizou o que estava sendo projetado para 2025 no aspecto digital, enquanto transformação, do ponto de vista da adoção de novas tecnologias e do próprio comportamento dos usuários.
Por conta desta aceleração, que atingiu dos pequenos aos grandes negócios, áreas como e-commerce e marketing digital continuarão em alta no próximo ano. O sociólogo também destaca a TI como principal porta de entrada no trabalho.
— A aceleração digital chegou aos pequenos negócios, que agora estão redes sociais e em sites, pensando em impulsionamento e tratamento de dados. Para isso, precisaremos ainda mais de desenvolvedores, profissionais de infraestrutura e de segurança da informação. Cabe também o consultor digital, aquele que entende um pouco de tudo, para pequenas marcas e negócios e para o empreendedor individual. No nível de grande marcas e empresas, já se fala em profissionais de games e de especialistas em realidade estendida — acrescenta o sociólogo.
Dario ainda lembra de outro tema que se tornou tendência nas empresas: a sustentabilidade. Engenheiros ambientais, especialistas em sustentabilidade serão cada vez mais buscados para atuar em questões ligadas a zerar emissões de carbono.
Piloto de drones é a novidade\
Uma única atividade foi lembrada por todos os profissionais consultados para esta reportagem: o piloto de drones é uma profissões que deverá se destacar em 2022.
Mesmo com o Brasil ainda não exigindo habilitação formal dos que utilizam o equipamento, é preciso ter um cadastro junto ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DCEA), entre outras exigências. Também há cursos específicos para exercer a função. No Brasil, pelos menos 80 mil dispositivos são reconhecidos pela Agência Nacional de Aviação Civil, que em 2017 regulamentou a profissão. Destes, 35.144 são de uso exclusivo das indústrias.
O mercado dos drones também está movimentado fora do País. Conforme a consultoria Gartner, serão vendidos no planeta 5 milhões de dispositivos até 2025, gerando um faturamento de cerca de US$ 15,2 bilhões por ano.
A HR Influencer Andressa Paltiano cita o uso de drones em atividades produtivas e revela a procura cada vez maior por especialistas no dispositivo em diferentes setores. O Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag) estima que existam pelo menos 1,5 mil drones operando no campo no Brasil.
— Quem atua com drones dentro do agronegócio está sendo muito bem remunerado para complementar as análises de campo por meio de imagens aéreas. A área de transportes de carga também tem requisitado os serviços dos pilotos de drone — revela Andressa.
Entre os outros ramos que passaram a usar o equipamento para diferentes tarefas estão o imobiliário, da construção civil, segurança, topografia, marketing, cinema e turismo. As funções vão desde produção de imagens para aerolevantamento, segurança pública, transmissão de competições esportivas até inspeções de estruturas. Mas os especialistas estimam que a função se disseminará rapidamente em novas aplicações. O sociólogo Dario Caldas lembra que já há startup brasileira apostando em entregas por drone, função autorizada nos Estados Unidos desde o ano passado.
Hoje, o piloto de drone costuma trabalhar de forma autônoma e o salário depende do tipo e da quantidade de serviços prestados mensalmente. O valor médio de uma diária pode ir de R$ 500, para imagens aéreas simples, a mais de R$ 10 mil, quando são drones equipados com sensores de última geração.
Fotógrafo de imagens áreas desde os tempos em que elas eram feitas de helicóptero, Patrick Carrion, 41 anos, de Cachoeirinha, é hoje proprietário de três empresas que disponibilizam serviços com drone — a mais antiga, especializada em fotos aéreas, outra que atende o mercado de filmagens e uma terceira para atender inspeções em diferentes ramos. Ele atua na função desde 2011.
De acordo com Carrion, o trabalho começou de forma amadora. Porém, com o tempo, o mercado percebeu que era preciso ter especialistas no dispositivo. O empresário afirma que o drone pode atuar em todos os mercados. Carrion tem trabalhado com a construção civil, projetos de viabilidades para o transporte, o mercado imobiliário e o agronegócio:
— É incrível ter chegado no ponto que chegou, onde este tipo de trabalho está sendo muito requisitado. Mas sabemos que é só início. Ainda está longe de chegar no auge. Não começamos com o delivery por drones, e quando isso chegar aqui tudo vai mudar.
Hoje, Carrion tem três pilotos de drone para o ramo imobiliário e dois específicos para áreas técnicas, como a engenharia. Além disso, ainda contrata freelancers para atividades em diferentes partes do país.
— Para quem deseja entrar no mercado da imagem, é preciso aprender a editar vídeos e a pilotar drone. Não há como se manter no mercado sem este conhecimento — ensina Carrion, que pretende criar cursos na área.
Fonte: Zero Hora
27/11/2024
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