A Rua 25 de Março traz a China para perto de São Paulo: barracas e prateleiras ocupadas por uma infinidade de produtos importados do país que é a grande fábrica do mundo. Mas, por lá, já se viu mais variedade. Nem tudo que foi encomendado tem sido entregue.
“A gente tem notícias de empresas que receberam os produtos de Páscoa depois da Páscoa. Nós percebemos também que a própria indústria nacional vem tendo dificuldade em receber matéria-prima de fora, e isso também vem acarretando falta de produto acabado aqui no Brasil”, afirma o comerciante Pierre Sarruf.
Essa é só a ponta de um problema muito maior. Nesse mundo globalizado, só se consegue encontrar os produtos nas lojas sem atrasos na entrega, com qualidade e a um custo acessível por causa da chamada “logística global”.
É uma engrenagem complexa, que envolve a fabricação, o estoque e o transporte de produtos pelos quatro cantos do planeta, e que, neste momento, está emperrada, porque o maior porto do mundo em movimentação de carga está travado.
O que falta na 25 de Março pode estar parado no Porto de Xangai, na China. A cidade, capital financeira do país, está em lockdown desde o fim de março. O porto funciona, mas não à plena carga.
“É um porto livre. Chega de tudo, então todas as cadeias de manufaturados, de produtos baratos, de produtos caros, de produtos de carro, de produtos de painéis solares… Tudo pode passar por Xangai” afirma Rodrigo Zeidan, professor da New York University Shangai e da Fundaçao Dom Cabral.
O professor Rodrigo Zeidan mora em Xangai. Ele conta que o tempo de espera para descarregar um navio no porto chegou a dobrar. Daí, o congestionamento de embarcações.
“Obviamente, a capacidade diminuiu. Isso é um problema porque o mundo está passando por um processo inflacionário no momento. Então, você tem inflação alta na Europa, inflação alta no Brasil, inflação alta nos Estados Unidos. Qualquer problema de cadeia de suprimentos tende a exacerbar a inflação mundial”, diz Zeidan.
É que o custo do transporte está na composição do preço que a gente paga por qualquer produto. A diretora-executiva da Associação Brasileira dos Operadores Logísticos, Marcella Cunha, explica que quanto menos navio no mar, mais caro fica o frete.
“A boa notícia é que, como solução, algumas empresas aqui no Brasil já estão buscando novos fornecedores fora da China, ainda que sejam na Ásia. Mas esse movimento não é rápido, não é trivial, uma vez que as empresas têm que já escolher um novo parceiro, já estabelecer uma nova relação comercial, um novo contrato. Isso também vai implicar um novo planejamento de fluxo logístico”, destaca.
Foi o que fez um comerciante da 25 de Março. Encontrou uma saída por terra, na nossa vizinhança.
“A gente acabou encontrar um parceiro bastante interessante aqui no Mercosul, que é a Argentina, e estamos trazendo mercadoria por transporte rodoviário. É um processo muito mais dinâmico e a um custo extremamente inferior ao transporte marítimo da China”, conta.
Fonte: Jornal Nacional